obras de compositores brasileiros

para fagote solo

dissertação de mestrado, UNI-RIO, 1999

ARIANE PETRI

 

EISENBERG, ALEXANDRE (*1966, Rio de Janeiro, RJ)

Megalogadron (1984, Rio de Janeiro)

Obra dedicada a Ricardo Rapoport

Obra estreada durante o ‘Panorama de Música Contemporânea’ de 1985, na Escola de Música da

Universidade Federal do Rio de Janeiro, por Noël Devos

Partitura computadorizada, não editada

Gravação não-comercializada da estréia, obtida com o compositor

Em um movimento: Irônico (MM colcheia=126 circa)

Duração: 3’45’’

Formalmente, vemos a peça como uma pequena colcha de retalhos, cheia de surpresas e novidades. Como alguns dos elementos voltam, garantindo sua unidade, pode-se percebê-la como um rondó pouco convencional:

c. 1-29 A31 (c. 1-8), B (c. 9-25), C (c. 26-29)

c. 30-42 D (c. 30-38.132), E (c. 38.2-40), C’ (c. 41/42)

c. 43-65 A’ (c. 43-54), F (c. 55-63), C’’ (c. 64/65)

c. 66-77 E’ (c. 66-68), G (c. 69-77)

c. 78-84 A’’

c. 85-103 A’’’ (c. 85-91), B’ (c. 92-94.1), E (c. 94.2-96), Coda (c. 97-103)

O período binário de A, com características quase clássicas, é formado por duas frases com direções contrárias e dinâmica contrastante em terraço, no interior de cada uma. Os compassos de B (exageradamente expressivo) sofrem uma aceleração controlada e recebem, quando posteriormente reaproveitados, a indicação de expressivo, mas não tanto como na primeira vez. C, de somente quatro compassos, possui um caráter conclusivo com as suas oitavas. O gesto rápido ascendente e descendente da seção E é ampliado depois, em E’, para escalas de tons maiores ascendentes seguidas de escalas cromáticas descendentes. A partir do c. 78, até o final, encontram-se inúmeras indicações de meno mosso e tempo I, o que resulta num grande rubato.

Apesar da presença de indicações para subir ou descer a afinação em algumas notas, além de dois glissandi na peça, preferimos não incluí-la no bloco das obras onde são empregados recursos de técnicas pouco convencionais de produção sonora, pois, embora essas poucas sonoridades alternativas produzam efeitos grotescos ou cômicos, não justificam a mudança da categoria de estilo da peça como um todo.

Pelo grande número de elementos melódicos e pelas rápidas mudanças de expressão entre eles, a obra ganha um lado teatral e intencionalmente ‘exagerado’, que deve ser explorado na interpretação. O lado exagerado se expressa também no título, que, segundo o compositor, não tem nenhum significado especial, mas foi fruto da tentativa de criar uma palavra que soe grega e reuna associações a uma grandeza falsa e a algo cômico.33 A teatralidade da peça é ainda enfatizada por mudanças súbitas de dinâmica, registro e articulação. Alguns trechos, como por exemplo toda a seção G com o staccato rápido em pp, são tecnicamente bastante difíceis. A peça foi avaliada no nível avançado I.

Quando compôs a peça, Eisenberg tinha 17 anos, cursava o primeiro ano da graduação em flauta e a dedicou a Ricardo Rapoport. No entanto, quem a estreou foi Devos. Vale ressaltar que, em 1999, o compositor ganhou o primeiro prêmio do Concurso ‘Rodrigo Riera Composition Competition’ com sua peça Prelúdio, Coral e Fuga para violão, prêmio que abriu caminhos para fazer doutorado em composição na ‘Indiana University’ em Bloomington, nos Estados Unidos.

31.  As seções marcadas em negrito são materiais reaproveitados.

32.  O primeiro número (aqui, o 38) significa o compasso, o segundo o tempo e um possível terceiro número a subdivisão.

33. Na época, Eisenberg escreveu mais duas peças com o sufixo -dron: Dodecadron para flauta e Spirogadron para oboé.

 

 

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