HARY SCHWEIZER, uma despedida

- carta aberta -

 

 

Carta aberta em homenagem ao Prof. Hary Schweizer

 

Brasília, 07 de Junho de 2016

 

Nasceu em Mafra, Santa Catarina. Formou-se em Piano na Escola de Belas Artes do Paraná em Curitiba e depois se encantou pelo fagote. Na época, estudou fagote com o Prof. Gustave Bush em São Paulo. Depois, num Curso de Música de Ouro Preto conheceu o Prof. Achim von Lorne, na época Primeiro Fagotista e Solista da Orquestra Sinfônica da Rádio da Baviera; dele teve um convite especial para estudar na Alemanha. Naquele país teve que se sustentar trabalhando numa conceituada loja de Discos da época. Entre os clientes dessa loja em 1976 atendeu integrantes do Quarteto de Cordas de Brasília, que o convidaram a lecionar fagote na UNB. Foi nesse momento que o espírito de desbravador retorna a sua pátria e inicia-se um longo percurso tanto como prof. de fagote, prof. de História (Evolução) da Música bem como fundador da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro. Numa época em que tudo estava começando no cenário musical fagotístico brasiliense, Hary tocava em tudo que havia na cidade, pois era solicitado sempre para tocar fagote. Na Universidade, aos poucos ele ia construindo com habilidade e maestria a sua classe de fagote.

Depois de alguns anos começou a ideia de fazer um fagote genuinamente brasileiro e aí começa a labuta incansável de construir peças, ferramentas e adaptar máquinas para a honrada missão de construir um fagote. Tive a oportunidade de tocar na estreia do seu primeiro instrumento. Os três primeiros fagotes construídos por Hary não foram utilizados na Orquestra, mas a partir do Quarto instrumento construído, até o fagote de número 68, todos foram experimentados e tocados na orquestra no período de verificação de controle de qualidade do instrumento, sendo realizadas modificações e contínua experimentação no ato de tocar. De lá para cá, desde que estou na Orquestra, completando esse ano 25 anos, nunca mais presenciei Hary tocando com outro instrumento a não ser se fosse o instrumento que ele mesmo havia construído.

Hary é impressionante, um camaleão do fagote! Como pode tocar esses anos todos com seu instrumento, sempre mudando e melhorando ao longo dos anos.  Mais impressionante ainda que foram (68-3) 65 fagotes utilizados na orquestra e acredito que as pessoas nem perceberam essa mudança tão sutil e presente na nossa Orquestra.

E outra, eu tenho uma certeza quase absoluta que na história do fagote não tem ninguém que teve a oportunidade de tocar em todos os seus instrumentos construídos por ele mesmo e tocado pelo próprio construtor na orquestra.

Incrível!

Um buscador de soluções criativas para seu desafiante trabalho de equilibrar seu fagote nos mais variados contextos musicais. Com sua coragem e perseverança, seus instrumentos estão em todo Brasil e fora do país. Além de construtor, Hary é um restaurador de fagotes tão hábil, capaz de fazer funcionar qualquer instrumento que chegar a suas mãos.

Continue na sua jornada de construção de fagote e na sua busca incansável ainda por muito tempo e que o Fagote 69 (fazendo analogia a sua idade em que completa esse ano) possa ser a soma de todas as experiências como músico e fagotista da nossa Orquestra

E peço licença a toda orquestra para dizer que se você quiser experimentar o seu fagote 69 e os muitos que virão, por favor, visite-nos, que eu terei o maior prazer de tocar com ele na orquestra.

É claro, que não é a mesma coisa quando você mesmo toca na orquestra e senti o comportamento do instrumento e as modificações necessárias que você pode fazer logo em seguida, mas tenho certeza que no âmbito de construir e experimentar um fagote acho que você vai sentir falta da rotina de tocar na orquestra.

Mesmo que se você não tiver em forma ou estudando, peço por gentileza, visite-nos trazendo suas novidades e seus fagotes para continuarmos acompanhando e admirando seu trabalho.

E mesmo com a aposentadoria, o vínculo institucional ainda se perpetua, com uma nova fase de sua vida: fagotista aposentado da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro. Com direito a estudar na hora que quiser e como quiser.

Quando eu vim para Brasília em 1991, ao passar no concurso da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro, na época era a realização de

um sonho de estudar fagote com o Prof. Hary que se concretizou em 1994. Desse período até hoje, foi formidável ser seu colega de trabalho tocando ao seu lado na orquestra. Quanta honra fazer parte disso ao mesmo tempo. Quanto eu aprendi na prática em sala de aula e depois ao seu lado na orquestra por todos esses anos. Não tenho palavras para descrever.

Formou vários fagotistas até o ano de 1994 que estão atuando no Brasil e no mundo e nesse mesmo ano tive o privilégio de ser o seu último aluno. Assim que eu terminei Hary aposentou na Universidade de Brasília.

Mesmo aposentado, sempre professor, sempre músico, sempre construtor, sábio em suas palavras, prestativo, incentivador, atencioso, pronto para ajudar, criativo, sábio ao falar na hora certa a verdade, brilhante, feliz, confiante, deslumbrante, servidor exemplar. E nesse sentido, não tenho mais adjetivos para expressar, um ser humano encantador. Um monumento vivo e em permanente mudança no nosso mundo do fagote. Continue assim e desejamos vida longa a esse grande artista.

Missão Cumprida como Servidor e em nome da Orquestra, quero agradecer imensamente os seus serviços prestados como Servidor dessa instituição por todos esses anos de dedicação ao trabalho como músico dessa Orquestra. “Bravíssimo.......Bravíssimo..........Bravíssimo”.

Uma salva de palmas para esse ilustre artista!

Flávio Lopes de Figueiredo Junior