palavras do compositor:

 

Dentre as minhas composições para piano, destaco a série de "VALSAS SANTARENAS" (atualmente, 81 peças), que venho compondo desde a década de 70 do século XX. Existem arranjos camerísticos, inclusive para violão, e um orquestral. Algumas têm letras que eu mesmo fiz. Portanto, podem ser cantadas também.

 

Muitas delas foram compostas em cidades diversas: Santarém, Belém, Boa Vista, Manaus, Macapá, Marabá, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Velho, Campo Grande/Bonito, Fortaleza etc...
 
A de nº 62, composta em Marabá e em Belém, em outubro de 2007, tem o subtítulo de "Itinerante".
 
A "Valsa Santarena nº 75" ("Seresteira") foi composta (originariamente para piano) na véspera do Dia de N. S. da Conceição (Padroeira de Santarém-PA, minha terra natal) e Dia da Justiça (8 de dezembro de 2008) - o arranjo para Trio de Flauta, Fagote e Piano.
 
Quando estudei piano no Conservatório "José Maurício", em São Paulo, com a Profª. Rachel Peluso, na década de 60, tive oportunidade de tocar uma das "Valsas Amazônicas" do compositor amazonense Arnaldo Rebelo, que residia no Rio de Janeiro (eu o conheci, pessoalmente, na casa da Profª. Rachel). Depois, conheci o compositor Francisco Mignone, que veio a Belém várias vezes, acompanhado de sua esposa (paraense) Josephina (pianista). Mignone é autor das lindas "Valsas de Esquina".
 

Além da produção musical de meu avô José Agostinho da Fonseca - que tem a sua bela valsa "Tapajônia" - e de meu pai (Wilson Fonseca) - que compôs a valsa "Pérola do Tapajós" -, estou certo de que foram também aquelas "Valsas Amazônicas" e as "Valsas de Esquina" que me influenciaram a compor as minhas "VALSAS SANTARENAS".

 

Certa vez, quando esteve em Belém (1985), Rachel Peluso solicitou-me, para exame, algumas de minhas Valsas Santarenas ( 1 a 24). Pouco tempo depois, ela enviou-me uma carta, com a devolução das partituras das valsas. Nessa oportunidade, a saudosa musicista santarena fez não apenas uma abalizada apreciação daquelas obras musicais, como também sugeriu diversos subtítulos para cada música: Praia dos Namorados; Revoada das Garças; Rio Tapajós dos Meus Sonhos; Saudosa Vera-Paz; Eterno Bailado dos Rios, Tapajós e Amazonas; Formosa Tapúia; Vitória-Régia; Seresta do Caboclo; Gorjeio do Jurutaí; Ilha Encantada; Sinfonia das Matas Selvagens; Noite de Luar; Coração Saudoso; Céu de Estrelas; Encontro das Águas; Meu Violão; Flores Silvestres; Em Cada Coração, Saudade de Santarém; O Canto da Mocoronga; Alvorada da Floresta Amazônia; Belém, Expressão das Artes; Serenata ao Luar; Melodia do Amor; e Sol Poente.

 

Ela revelou-me que os subtítulos foram inspirados após ela própria tocar, ao piano, cada uma dessas Valsas Santarenas, quando pôde melhor sentir o espírito e o clima de cada composição. É oportuno registrar que guardo com muito carinho esse tesouro, que considero uma verdadeira relíquia, porque se trata de material escrito do próprio punho, pela querida e saudosa amiga, compositora e conterrânea, sobre os manuscritos de minhas composições.

 

Confesso que a extensa produção de Valsas Santarenas, que venho compondo há mais de 30 anos, por onde quer que eu tenha andado, ajudam a amenizar a saudade da terra querida. Quando cheguei ao patamar de 50 valsas, imaginei que já era hora de encerrar a série. Um dos últimos conselhos de meu pai, entretanto, foi no sentido de que eu deveria continuar compondo essas valsas, sempre que houvesse inspiração. Nem a propósito, em março de 2002, quando o velho Isoca era sepultado, em Santarém, havia um luar muito bonito. E eu havia composto a valsa nº 51 no próprio hospital, em Belém, onde ele foi internado, com 89 anos, para submeter-me a uma operação cirúrgica provocada por uma queda que sofrera, antes de falecer. Nem sei como tive forças para tocar aquela peça na missa de corpo presente na Igreja de N. S. da Conceição, em Santarém. Logo me veio à idéia de subintitular a valsa nº 51 como Lira Iluminada, cuja partitura deixei depositada em seu esquife na hora da partida.

 

A "Valsa Santarena nº 75" tem o subtítulo de "Seresteira" justamente porque lembra as velhas serenatas que eu ouvia, na minha infância e juventude, em minha terra natal (Santarém-PA). Imagine um luar em plena região do belíssimo Rio Tapajós, mais ou menos como a foto que ilustra a capa que elaborei para musica... Bate aquela saudade!...