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Como me
preparo para um concurso de orquestra? *
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Peter W. Cooper ** |
tradução:
Hary Schweizer |
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Há algum tempo, depois de eu ter
conquistado um importante concurso para orquestra, um
colega me perguntou qual teria sido o segredo de meu sucesso. Depois de
breve pensar, respondi: "Deixa teu coração tocar com extrema exatidão".
Esta é naturalmente uma afirmação abrangente, mas que no fundo deixa aberta a
pergunta: "como se faz isso?"
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Os tempos mais difíceis e mais
estressantes na carreira de um músico de orquestra são
provavelmente os concursos. Em nenhuma outra situação de sua
profissão, quando tanta coisa está em jogo, ele tem de se
confrontar em tão pouco tempo simultaneamente com tantas
músicas diferentes e difíceis.
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Como se administra este
stress? Como a gente pode se preparar para, no "momento da verdade", tocar no seu nível mais
elevado? Tenho dois pensamentos decisivos que podem orientar Você na preparação
de um concurso:
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1. não deixe de testar nenhum ítem durante a preparação;
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2. não tenha preocupações
desnecessárias em coisas sobre as quais Você não tem influência.
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Neste artigo vou abordar, além de outros aspectos, estes dois
pontos.
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Participei de mais de vinte concursos de orquestra,
venci três deles, e assim estou há 26 anos nesta profissão. Também
participei como jurado de muitos concursos e fiquei em parte chocado
com a falta de preparo de alguns candidatos.
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Os passos a seguir são destinados especialmente aos oboistas, mas
outros instrumentistas de madeira podem se aproveitar igualmente da
maioria dessas dicas.
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Obs: na tradução a seguir, (com a devida licença) foi feita a
substituição/adaptação para o fagote, pois é num site especializado ao
fagote que está incluído este artigo! - Também, com a devida
licença, o tradutor se pergunta: não seria a maioria dessas
dicas também válida para a realização dos concertos sinfônicos,
dos recitais de fagote, música de câmara e audições,
uma vez que a cada concerto tocamos para uma banca bem mais
numerosa, composta de um público também muito atento e crítico ao que lhe
oferecemos?
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O INSTRUMENTO
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Tão logo Você tome
conhecimento das datas de seu concurso, entre em contato com
seu construtor de instrumentos ou com a pessoa que faz a manutenção do
seu instrumento, para agendar uma revisão. Na hora do concurso
não basta que seu instrumento esteja em "boa forma"; ele precisa
funcionar com perfeição. Não desconsidere isso! O que acontece
se seu instrumento está ajustado apenas superficialmente ou até com pequenos
vazamentos, que no dia a dia podem até parecer insignificantes? Algumas notas
vão responder com dificuldade e então Você vai tentar apertar o
mecanismo com mais força que o necessário. A maior tensão nos dedos
vai se espalhar a partir dos braços e ombros a todo o corpo e vai criar
uma atmosfera tensa e um esforço que vai se tornar perceptível. Esta tensão
adicional pode desencadear um pânico de sobrevivência, que pode não ser
a situação emocional ideal para Você poder mostrar toda sua capacidade
de interpretação. Você terá de renunciar a uma flexibilidade dinâmica, pois Você
não terá a certeza se seu instrumento vai responder bem nas passagens suaves e
em piano. É certeza que para o dia do concurso Você vai ter
escolhido "a" palheta, aquela que responda melhor; assim,
com seu instrumento vazando, suas notas graves serão mais baixas do que o
normal, pois Você não vai arriscar de tocá-las mais forte, por medo que
elas falhem. Portanto, quanto melhor a vedação de seu instrumento, tanto
maior e melhor a flexibilidade sonora, sobretudo nos graves.
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PALHETAS
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A pergunta, se no dia do concurso Você vai ter uma excelente palheta,
não deveria sequer existir. Se Você normalmente prepara uma palheta por
dia, durante a preparação para o concurso, algumas semanas antes de ele
acontecer, Você deverá preparar pelo menos três palhetas diariamente.
Escolha cuidadosamente o material e descarte tudo que não seja de
primeira linha. Escolha canas dentre aqueles molhos que ultimamente lhe
permitiram fazer boas palhetas. Isso significa que Você tem de ter à mão
muitas canas de diversos fornecedores.
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Eu recomendo que, três dias antes do concurso, Você tenha à escolha
aproximadamente 12 palhetas de primeira qualidade. Se Você enfrenta um
concurso com a sensação de ter uma boa escolha de ótimas palhetas, Você
tira um peso enorme da consciência. Peneire nos últimos dois dias ainda
aquelas que Você acha que não tenham ótimas chances de bons
resultados, de tal maneira que a escolha final fique entre três ou
quatro palhetas extraordinárias, para quando Você estiver já no local do
concurso.
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Não se prenda demais
emocionalmente a uma única palheta. Quase sempre em algum
momento o coração dela pode "falhar"....
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Decida-se pela palheta do concurso não muito tempo antes de ele
acontecer e use aquela que, no momento da apresentação, melhor responda,
ainda que não seja uma daquelas que Você tenha escolhido como a palheta
ideal.
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Providencie que as palhetas antes da prova
tenham sido devidamente experimentadas.
Cada uma delas deve ter passado por três ou quatro sessões de uso, com
tempo para secar e posterior aclimatização. Pode acontecer que nas
provas Você fique muito tempo sentado esperando sua vez; assim,
considerando que sua palheta foi cuidadosamente preparada, Você não
vai ter de se preocupar como seria com uma palheta mal saída do
forno, que eventualmente pudesse ficar muito dura.
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ESCOLHA DOS ANDAMENTOS
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Se na lista das obras do repertório existirem algumas que Você ainda
não conheça, é preciso prepará-las de tal maneira que pareçam serem
músicas de sua intimidade. Você deveria ouvir pelo menos três gravações
diferentes da obra. Por que três? Por que é importante tomar
conhecimento de diferentes concepções de andamento e de diferentes
possibilidades de interpretação. Talvez não exista o andamento correto,
mas muitos que podem ser definidos como falsos. Cada passagem que Você
toca numa prova de concurso tem uma variação de andamento aceitável. É
dentro dela que sua escolha deve ficar. O andamento tem de parecer
razoável. Se Você toca muito rapidamente uma passagem rápida, isso pode
causar uma impressão boba de que Você quer se mostrar. Se numa passagem
rápida seu andamento é lento demais, pode dar a impressão de insegurança
técnica. Tenha também o cuidado para que uma passagem lenta não chegue a
soar muito pesada. Os jurados já naturalmente cansados vão se aborrecer.
Condicione seus andamentos de tal maneira como os imaginou, que os
consiga executar também numa situação de stress. Encontre um ou dois
compassos apropriados e experimente, baseado neles, fazer deles uma
referência para o
andamento. Cante estes compassos mentalmente antes de começar a tocar a
peça.
Os compassos iniciais nem sempre são os mais apropriados para este
exercício, mas alguns compassos tirados do meio da música.
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Quando Você for ouvir as passagens exigidas para a prova, é
importante não se limitar somente a ela, mas ouvi-la em todo seu
contexto; ou melhor ainda, toda a parte de seu instrumento. Use para seu
estudo não aquelas edições especiais para concursos, mas procure obter
a parte completa. Se lhe for possível, ouça a peça acompanhando pela
partitura. Distinga onde estão as passagens em solo e as passagens em
tutti. Se, por exemplo, Você toca em uníssono com a clarineta, defina-se
por uma modulação com pouco ou mesmo sem nenhum vibrato. Quando a parte
da clarineta termina e o seu instrumento continua com o solo, Você pode
mudar a intensidade da cor de seu som e a intensidade de seu vibrato.
Algumas anotações de dinâmica em piano devem ser tocadas com muita
sutileza, enquanto outras, em obras com uma instrumentação mais carregada, mas que
também tenham também a indicação em piano, devem ser tocadas e ouvidas por sobre
esta instrumentação cheia.
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Se é a instituição que lhe envia
os trechos da prova, concentre-se naturalmente neles. Mas é
coisa sábia, estudar toda a obra ou pelo menos dar nela uma
olhada mais profunda. Certa vez eu fui convidado a tocar um
trecho que não estava na lista do repertório. Fazer uma
observação como "mas isso não é leal!" não é
coisa que se
faça.
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TÉCNICA
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Eu sempre digo a meus alunos: "aquele que toca bem solos lentos, tem
chance de vencer um concurso. Aquele, porém, que toca passagens rápidas
com restrições, jamais vencerá". Com outras palavras: uma técnica limpa
não garante o sucesso, mas com uma técnica defeituosa Você perde com
certeza.
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Uma preparação básica com o metrônomo é essencial! Existem muitos bons
caminhos de treinar a técnica, e de maneira nenhuma quero afirmar que eu
tenha o único método correto. Eu penso, não importa como treinemos a
técnica, ela sempre deveria ser rítmica e a partir de um impulso
interno. Toque no mesmo estilo e com a mesma energia, não importa se
esteja tocando num andamento lento ou rápido. Nunca seja desleixado ao estudar
técnica. Se ela não estiver limpa, o andamento está rápido demais.
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Quando músicos estudam técnica, seguidamente eles caem numa certa
rotina. Isto é, que as mesmas notas sempre ou são muito fracas, ou
muito curtas ou muito rachadas e alunos estudam estas desigualdades de
tal forma que elas ficam viciadas com a constante repetição. Procure
novos caminhos ao tomar uma passagem técnica que lhe seja conhecida, e
enxergá-la de maneira nova. Toque, por exemplo, as semicolcheias como tercinas e vice-versa; mude a sequência da nota inicial das tercinas;
isso fará mudar os acentos de tal maneira que nem sempre as mesmas notas
sejam aquelas cabeça de compasso. Toque também a passagem em ritmos
pontuados e inverta o ritmo. Existem muitos meios de reavivar uma
passagem muitas vezes (mal)tocada.
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Através de exercícios técnicos a gente chega num ponto que,
em vez de
esperar que a passagem saia perfeita, a gente chegue à certeza que a
passagem sairá bem. Em algumas passagens isso acontece com certa
rapidez, em outras são necessárias semanas ou até meses de um estudo
diário até que o mesmo ocorra. É importante atingir este ponto da
certeza
antes de enfrentar um concurso.
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Eu falo seguidamente com meus alunos sobre seus "inner-Freak-Out
Metter". Este é um método de questionar seus medos ou sua situação de
stress. Se a gente quisesse visualizar esta situação através de uma
escala, escalonando-a de "um a dez", onde o nível "um"
seja a situação na qual nos sintamos
bem, "cool" e confiantes de que o solo vai ser 100%. Na nível "dez" perderíamos os nervos e piraríamos.
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Por exemplo, defina o andamento que Você consiga tocar no
nível
"um". Não importa se Você tenha de tocar a passagem mais lentamente
para encontrar este nível "um". Ao aumentar o andamento tenha sempre em mente este
sentimento do "um", (ou pelo menos 1,5). Se interiormente Você
sentir os níveis aumentarem, piora o resultado; Você está estudando rápido
demais. Se Você conseguir manter a sensação do "um", Você nunca terá medo
diante desta mesma passagem. Isto é importante pois montar uma técnica
deveria ser simultaneamente um processo de confiança, quando os dedos
estão devidamente treinados.
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Se sua execução na seu
entender está perfeita, mas o valor mental se situa no nível 4 ou 5, Você certamente está estudando muito rápido, pois a
confiança ainda não se estabeleceu. Agora imagine que, durante seis meses Você
tocou a Noiva Vendida de Smetana (o texto original oferece
aqui como exemplo para os oboistas a peça "Le Tombeau de Couperin"), conseguindo sempre manter o
nível "um" da escala. Pode até ser que Você também demore os seis
meses para chegar à
velocidade ideal da peça; mas durante este processo Você construiu
(montou) mentalmente um super-homem. Se um dia Você tocar esta mesma
peça numa prova de concurso então Você poderá dizer: "Eu nunca senti
coisa diferente do que uma confiança total nesta obra e nunca a toquei
menos do que perfeita". Você vai ter a confiança, Você vai superar a
situação. Imagine a situação de vantagem que Você terá em relação a
colegas seus que, tremendo, sempre tiveram uma nota abaixo de "um" naquela
sua escala.
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SEJA SENSÍVEL ÀS NUANCES
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Se Você conseguir tocar bonito e com uma técnica sem problemas Você
já estará em vantagem em relação a muitos concorrentes. Mas isto não
basta. Cada peça da prova exige uma estilo diferenciado e uma cor
própria. O que pode significar que o som que Você usa em La Mer
(Debussy) deva ser diferente do som da Eroica (Beethoven). Na música
francesa exige-se um som mais tênue e mais etéreo do que na música
alemã. O vibrato deverá variar de um rápido e apaixonado até um lento e
pesado até ao inexistente, assim como a natureza da obra o exija. Também
as notas em staccato não são todas iguais. Numa abertura de Rossini eles
deverão ser curtos e "crocantes". Ao contrário em Wagner o
mesmo sinal de articulação deverá ser interpretado mais longo e mais
massudo (um regente certa vez comparou o staccato de Wagner com a gordura de uma linguiça pingando). A maioria dos instrumentistas são possessos em
produzir um som "escuro", mas deveriam ter sempre um som bonito
oscilando com timbres claros e escuros, sublinhando a qualidade da
música.
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Cada passagem das peças de concurso tem sua marca característica
própria. A gente pode conseguir isso de um lado com uma palheta muito
flexível, de outro quando a gente, com toda a calma e longe do
instrumento reflete sobre a passagem. Você deveria gastar um certo tempo
sem o instrumento nas mãos em refletir como cada passagem poderia soar
se Você tivesse possibilidades ilimitadas. É também de grande valia
ouvir grandes cantores e violinistas, que normalmente tem muito maior
capacidade expressiva do que no nosso instrumento. Imagine como seria a
passagem que Você está tocando se ela fosse cantada como o faz JESSYE
NORMAN ou se ela fosse tocada por YO YO MA. Imite seus estilos,
sonoridades e seu poder de convencimento musical e tenha diante dos
olhos uma palheta que tenha a capacidade de realizar isso. Não perca as
oportunidades de ouvir outros fagotistas. Meu professor RAY STILL
recomendava ouvir grandes jazzistas. Segundo a opinião dele os mais
completos e mais experientes instrumentistas de sopro de nosso planeta
eram os saxofonistas de jazz.
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Você deveria gravar cada passagem de seu concurso antes do concurso.
Isso pode ser desgastante, mas é sempre melhor Você poder ouvir e
corrigir seus erros antes que os jurados o façam. Confie no seu
instinto. Se Você tem a sensação que uma passagem não funciona,
tente a entender o porquê. Poderia ser, por. exemplo, algo muito
simples, que uma única
nota esteja destoando do contexto.
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Gaste tempo com o afinador. Esteja seguro que intervalos maiores
soem afinados. Você precisa saber que uma nota que constantemente é
tocada "suja", parece normal se ela foi suficientemente repetida. Tenha
intimidade com as tendências de afinação de seu instrumento e conheça
aquelas notas que frequentemente tem a tendência de soar mais agudas ou
mais graves, de tal maneira que Você possa fazer a compensação, sem
cair no lado oposto. Use o afinador para conferir com os olhos
e utilize o som do seu afinador para, a partir da nota fixa dele,
construir intervalos inferiores e superiores.
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Você deveria ter para cada passagem um plano. Cada frase
precisa ser pensada antecipadamente para que ela possa atingir sempre
seu clímax. Você precisa ter a consciência para onde cada frase vai.
Direcione-se a este ponto (este não precisa necessariamente
ser a nota mais aguda) e retorne a partir daí. Um bom pensamento é
também, durante este plano de execução se ocupar com a situação nervosa.
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Se Você tiver um plano para cada
peça, Você poderá se concentrar totalmente na peça e não precisa
se preocupar, o quão nervoso Você vai estar. Por outro lado seus
nervos, que são sensíveis, podem levar a uma interpretação mais
acurada. Nervos nos permitem sentir que nós vivemos e nos
lembram da vontade que temos de nos apresentar de maneira
impecável. Eles não são sintomas de doença, mas um sinal que a
gente se preocupa em render o melhor que pode.
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Conte através de grandes solos
românticos uma história e pinte um quadro. Tantos músicos tocam
apenas notas bonitas ao invés de ter o público nas mãos e levá-lo a algum lugar. Imagine uma história e a
transmita àqueles que o estão ouvindo.
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Você precisa irradiar grande
energia, mas se acalmar quando a música assim o exige. Quando Larry
Combs ganhou a cadeira de clarineta solista
da Orquestra de Chicago, um de seus colegas opinou sopre aquela
prova: "Larry tocou em cores, todos os demais tocaram em preto e branco".
Lhes dou o mesmo conselho: "toquem colorido". Não tenha
receio nem hesitem demonstrar segurança ao tocar. Assuma para si a
iniciativa musical. Sempre vão existir
dezenas de candidatos seguros e conservadores que sempre perdem. Toque
para vencer e não para evitar a derrota.
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MEREÇO VENCER?
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Se Você ainda não se ocupou
mentalmente com este tema, não vai nem entender a pergunta. Ou
então vejamos: De uma certa maneira todos somos até certo ponto
instáveis ou inseguros e é fácil cair na armadilha e se
perguntar se somos realmente merecedores de vencer. Tenho muitos
alunos, talentosos, empenhados, aparentemente seguros, que me
fazem tal pergunta.
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Eu vejo isso da seguinte maneira:
todo aquele que gastou anos com seus estudos e dispendeu muito
dinheiro para pagá-los, todo aquele que com sua família passou por
sacrifícios para realizar este sonho, todo aquele que deixou de se divertir
para estudar, todo aquele que desesperadamente procurou fazer sempre
melhores palhetas, todo aquele que negociou e pechinchou para comprar um
novo instrumento... Você conhece alguém assim? Com certeza Você
não é o único que merece ganhar, mas se Você se encaixa em algum
dos ítens acima, com certeza Você o merece!
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ENSAIAR A PROVA DO CONCURSO
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Você deveria tocar (ensaiar)
pelo menos três provas de concurso perante amigos e colegas em
quem Você confia. Mas não toque perante alguém a quem Você não é
muito chegado ou que poderia eventualmente fazer mau uso dessa
situação. Algumas pessoas se aproveitam da abertura de sua
psique, para lhe falar coisas que já há tempos gostariam de lhe
falar. Elas trazem isso escondido dentro delas com a finalidade
de lhe ofender ou prejudicar. Procure pessoas prestativas, que o
escutem com bons propósitos e faça um quase-concurso bastante
formal e até desconfortável. Tanto quanto possível tente
reproduzir a atmosfera da prova do concurso. Não faça
aquecimento no ambiente onde vão estar os jurados. Quando Você
estiver pronto, entre e deixe que os jurados escolham a
sequência das peças. Não converse nem faça brincadeiras! O júri
deve poder anotar as coisas que queira. Mas isso só vai ser
discutido depois da prova. Copie suas notas. Grave a prova e
ouça a gravação somente mais tarde depois de ter ouvido os
comentários.
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COISAS QUE VOCÊ NÃO PODE
CONTROLAR
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Muitas pessoas gastam um tempo
inútil se preocupando com coisas sobre as quais não tem
controle. Por exemplo:
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- quem vai estar na
banca;
- quantos serão os
participantes;
- qual senha vai ser a
sua e o que ela pode significar;
- a temperatura da
sala;
- a acústica da sala;
- o que a banca vai
querer ouvir;
- o clima;
- sua saúde no dia da
prova;
Este é um dado que em parte
pode ser previsto e previamente controlado, mas no dia da
prova é preciso aceitar-se da exata maneira como Você se
sente. Se Você não estiver realmente passando mal, Você vai
ficar admirado do quanto Você pode render no tão curto espaço de
tempo de uma prova.
- se a banca gosta de
Você ou não;
- se o vencedor vai
ser Você.
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Você não tem a mínima
influencia sobre nenhum destes pontos, portanto não gaste sua
energia com eles. Condicione-se de tal forma que tais pensamentos nem cheguem
perto de Você. Você vai ficar surpreso o quanto é de bom efeito
Você poder dizer: " não posso fazer nada, por que quebrar a
cabeça e gastar tempo com isso?"
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COISAS QUE VOCÊ PODE CONTROLAR
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- a postura;
- a preparação;
- as palhetas;
- sua performance.
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isso é o bastante para ocupar seus
pensamentos, mas deveria lhe ocupar por inteiro!
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NO LOCAL DA PROVA
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Se a cidade onde Você vai fazer a
prova lhe é estranha, faça um passeio ao local da prova um dia
antes da mesma. Assim Você vai saber onde deve ir, o local se
torna familiar. Durante a prova Você com certeza vai
encontrar amigos de velhos tempos, companheiros de classe ou
outros colegas. Não é esta a hora de reavivar amizades e
comentar histórias passadas. Para isso espere a prova passar.
Cumprimente simplesmente as pessoas e procure não comentar com
seus concorrentes sobre o estado emocional de cada um. Lembre
que toda sua energia e concentração deve estar direcionada para
sua melhor e mais perfeita interpretação.
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Acho bom, um ou dois dias antes
da prova, providenciar um bloco de notas como apoio. Você vai
passar por suas próprias experiências diante de um concurso.
Esteja familiarizado com um bloco de notas já antes da prova. No
caso de uma espera demasiado longa, este bloco de notas poderá
ser seu confidente....
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Preste atenção a suas palhetas
para saber quão molhadas elas devam estar. Algumas palhetas
funcionam melhor quando Você as mantém na água; outras
ficam intocáveis, pois incham quando molhadas. Algumas deveriam
secar na caixa de palhetas, outras deveriam secar ao ar livre e
somente voltar a ser umedecidas quando forem usadas. Uma palheta
úmida numa caixa de palhetas fechada seca sempre mais lentamente
e fica mais aberta do que aquela palheta que secou ao ar livre.
A administração da palheta é fundamental para que a palheta
esteja no ponto certo na hora certa. Afie sua faca antes de ir
ao concurso para poder fazer correções mínimas ainda de última
hora, se necessário. Cheque duas vezes se Você tem várias linguetas. Já imaginou se Você só leva
só uma e, por acaso, esta
única lingueta cai entre as teclas do piano? e leve também um
bloco de madeira.
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A PROVA PROPRIAMENTE DITA
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Não faça seu aquecimento no palco.
Se tiver que experimentar sua palheta, faça-o de modo suave,
discreto e rápido. É melhor experimentá-la rapidamente antes de
entrar em cena na esperança que aqueles poucos segundos de distância
não a façam mudar demais. Tocar escalas ou firulas diversas diante
da banca não o vai ajudar além de logo deixar uma imagem negativa, antes mesmo de Você começar
a prova. É incrível quantos candidatos tentam se produzir com
tais demonstrações. Começar uma prova sem este expediente deixa
uma impressão de conhecimento e confiança. Gaste um tempinho
antes de tocar a peça, para poder penetrar nela. Já desde a
emissão do primeiro som Você precisa estar na atmosfera da obra.
Os primeiros compassos também já definem para a banca se o veredito é um
"não", ou um "sim, pode continuar a
tocar". Você não tem tempo para ir se encontrando lentamente
enquanto toca. Você tem de impressionar de imediato.
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MANTRA DA PROVA
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GLADYS ELLIOT, minha
professora, me convenceu a repetir sempre o seguinte mantra. A
mim ajudou:
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- sem medo;
- sem contrações;
- sem vontade de
agradar;
- nada deve interferir
entre mim e a tarefa que estou realizando.
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Observação ao item 2: através
de uma concentração intensa as contrações se desfazem e Você
estará livre para tocar sem os grilhões da insegurança.
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Observação ao item 3: é de
grande valia para muitos candidatos. Não tente agradar a banca.
Você não pode levá-la a gostar de Você. Conforme a ironia-Zen a
melhor chance que Você tem de agradar a banca é não prestar
atenção se a banca gosta de Você.
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E SE NÃO GANHAR...
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Não é vergonha perder um
concurso. Muitos grandes músicos perderam não só uma vez. Evite
aquele sensação passageira do "bálsamo" da amargura; nem
saia dizendo que foi desleal ou manipulação. Ninguém vence
sempre. Pode ter a certeza, que nesta preparação Você cresceu.
Não foi tempo perdido ter estudado correta e conscientemente.
Procure perguntar-se, o que, se realmente for o caso, saiu
errado e como Você pode valorizar essa experiência para, na
próxima vez, se preparar melhor. Sempre vão existir concursos. Se
Você conseguir enxergar estas situações de um maneira positiva e
crescer com isso, Você vai poder se apresentar ao próximo
"cadafalso" fortalecido e encarar as próximas ocasiões com
entusiasmo e decisão.
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* Artigo publicado em IDRS
30/2007 (Some Thoughts on Auditions), e em ROHRBLATT 4/2008
(Wie bereite ich mich auf ein Probespiel vor?)
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** Peter W. Cooper é oboé
solista Orquestra Sinfônica de Colorado e professor de oboé na
Universidade de Colorado em Boulder
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