Conversa de fagotista

- hary schweizer -

 

Músico, artesão, fabricante de cachaça (da boa) de fundo do quintal, entre outras coisas, este é HARY SCHWEIZER que apesar do nome alemão, é bem brasileiro. Entre as muitas paixões que cultiva está a fabricação de fagotes, trabalho que desempenha artesanalmente. Em simpática entrevista contou-nos coisas do arco da velha: desde a entrada num seminário, à opinião sobre maestros, até essa difícil arte que o tornou referênca mundial entre os construtores de instrumentos. É o mantenedor do "portal do fagote", um dos mais completos sites sobre o fagote em língua portuguesa.

 

 

 

ENTREVISTA feita por Regina Ivete Lopes – publicada em “Música em Brasília”, o informativo da Livraria Musimed em Brasília, edição nº 13, julho/agosto de 2005.

 

MBVocê é supersticioso? É que este é o MUSICA EM BRASÍLIA nº 13!

Hary –Acho que não. Portanto, pode perguntar tranqüilamente, independentemente de eu ser o escolhido para a entrevista nº 13...

 

MBÉ verdade que você foi seminarista? Por que deixou o seminário?

Hary – Talvez fosse melhor perguntar como cheguei lá! Até hoje não sei direito! Talvez por oportunidade de estudo, por status familiar, por ingenuidade de infância...? com 12 anos de idade não é coisa que se decida; mas depois que estava lá, o problema era como sair. Como eu não sabia exatamente porque entrei, na hora de decidir o que fazer da vida, titubeei. Então foi por isso que saí. Não me arrependo, acho que tomei a decisão correta. Acho que não seria um bom padre.

 

MBQuando descobriu que tinha vocação para a música?
Hary – Lembro que meu pai comprava as coleções de clássicos de seleções. Gostava de ouvir, mesmo sem entender. E quase sempre adormecia ao ouvir essa música. Então, minha mãe colocava os Concertos Brandenburgueses de Bach para me fazer dormir. No seminário, eu gostava de tocar piano. Mas isso ainda não significava vocação musical, acho eu. Era a oportunidade que eu tinha de tocar. Descobri que eu ia ser músico num dia em que, por volta dos 18 anos, assisti a um concerto da Orquestra Sinfônica da UFPR e me encantei. “É isso que eu quero fazer; tocar numa orquestra”, pensei. A partir daí, comecei a correr atrás.

 

MB - Encontrou resistência em casa?

Hary – Ser músico em famílias tradicionais ainda hoje é visto com certa ressalva; imagine isso décadas atrás! Devia ter sido difícil para qualquer pai aceitar que seu filho fosse músico. Acho que no caso de meu pai ainda mais. Ele gostaria de me ver em sua firma metalúrgica...

 

MBE Brasília? Como é que veio parar aqui?

Hary – Por um caminho bastante tortuoso que começou em 1973 com minha ida para a Alemanha: encontrei num curso de férias em Ouro Preto, um professor que se propôs a me dar aulas de fagote se um dia eu fosse à Alemanha. Seis meses depois, bati à porta dele e falei: “Cá estou; podemos começar”. Foram quatro anos estudando lá. Para me sustentar (fui sem bolsa) trabalhei numa loja de discos. Certo dia, passaram por esta loja à procura de LP’s, (alguém ainda se lembra dos bolachões?) dois dos membros do Quarteto de Cordas da UnB: Antônio Guerra Vicente e Johann Georg Scheuermann. Quando os atendi, ficaram surpresos ao encontrar alguém falando português no principal centro comercial de Munique. Quiseram saber o que eu estava fazendo lá: “Estou estudando fagote”. Então me chamaram para preencher uma lacuna de fagotista no Quinteto de Sopros da UnB, em Brasília. Foi o começo de tudo.

 

MBEntão foi como Bohumil. Ele também foi convidado para isso: compor o Quinteto de Sopros e lecionar no Departamento de Música da UnB.

Hary – Exatamente. O contrato, que na época era por indicação e seleção, incluía ser professor. A atividade de professor foi preenchida com Música de Câmara, História da Música. (Quiseram me colocar também como regente de coral, mas foi uma tentativa frustrada; não era minha especialidade.)

 

MB E quando foi que você começou a dar aulas de fagote?

Hary – Eu dei aulas de fagote o tempo todo, só que a quantidade de alunos era sempre limitada à possibilidade de se ter o instrumento. À medida que chegava aluno com o instrumento, a classe aumentava. Diante disso, não dá para dizer que foi uma classe grande de fagote, mas foi uma grande classe de fagote.

 

MBE o Quinteto de Sopros?
Hary – Foi uma fase rica, produtiva e gostosa. Afinal, eu estava realizando aquilo que pretendi fazer: tocar fagote. Toquei obras importantes, conheci muita literatura, gravamos dois LPs, fizemos uma turnê pelo Brasil e outra por países da América Latina; além disso, participávamos com uma assiduidade incomum dos concertos semanais da UnB. Tenho boas lembranças daquela época, todas muito positivas.

 

MBE mesmo depois que o quinteto acabou, você ainda lecionou por muito tempo na UnB? Você se sente realizado?
Hary – Não havia me preparado para dar aulas de História da Música; tive de aprender durante o ensinar e acredito que os alunos me fizeram aprender direitinho – até hoje eles comentam com certa saudade dessas aulas. Os fagotistas que formei estão todos colocados profissionalmente em vários países. Hoje, não leciono mais por falta de tempo, ainda assim, sou vez por outra convidado. Isso pode ser considerado como realização para um professor.

 

MB – Você é considerado excelente não só como professor mas também como instrumentista. O que acha que faz melhor?

Hary –Procuro fazer sempre bem feitas as coisas às quais me dedico; quem pode dizer no que sou melhor são aqueles que de certa maneira cruzaram meu caminho; pessoalmente me sinto melhor tocando.

 

MBE o que lhe dá mais prazer, atuar na Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional, da qual é fundador, ou ver o resultado do seu trabalho como professor refletido nos bons fagotistas que formou?
Hary – Olha, vamos desdobrar a pergunta: o lecionar é bom à medida que o aluno corresponde. E o aluno corresponde quando alguém o incentiva. Então, se você consegue fazer esse binômio funcionar, também se sente incentivado. Aí, o lecionar é bom. Lecionar só pelo fato de lecionar, não me atrai muito. Nesse sentido, ainda me realizo mais tocando na orquestra que vi nascer, acompanhei nos momentos de crise e de crescimento e da qual participo com orgulho. Afinal, estudei para tocar. Eu diria que ensinar é uma conseqüência.

 

MB – Ensinar música, em muitos países, faz parte da educação do cidadão. Nós acreditamos no poder que ela tem como formadora de bom caráter e defendemos sua volta ao currículo escolar. O que você acha?

Hary –Acho fundamental. Se mais gente tivesse acesso à educação musical, haveria outro conceito do que é fazer música e a música do Brasil seria mais erudita, não necessariamente uma música clássica erudita, simplesmente uma música erudita, (mais bem elaborada). Acredito também que a música poderia ajudar na socialização e na formação; se considerarmos o quanto o brasileiro é musical, se essa força pudesse ser canalizada (a música poderia ser um meio) talvez grande parte dos problemas sociais estivessem resolvidos; além disso, se mais pessoas tivessem contato mais cedo com a música, poderiam decidir com a antecedência e a maturidade necessárias a sua futura profissão de músico.

 

MB – Além, é claro, de se beneficiarem do bem e do prazer que ela proporciona...

Hary – Olha, vendo, por exemplo, o que o Coro Sinfônico representa para a comunidade, para aqueles que dele participam, que fazem do coro uma terapia, eu acho que a música é também uma terapia. Muito mais gente deveria ter acesso à atividade musical descompromissada, seja ela num coral, num conjunto ou banda, como puro conhecimento, ou como capacidade de poder ouvir uma música com discernimento, de poder decidir o que é bom e o que pode ser dispensado...

 

MB Alguns músicos cultivam manias para ajudar na concentração ou mesmo para aliviar a ansiedade antes das apresentações. E você, tem alguma?

Hary – Isso você tem que perguntar para outros músicos da orquestra porque, se alguém tem alguma mania, são os outros que vêem isso. Quem tem a mania nem sempre a percebe.

 

MBMas qual é a sua rotina nos dias de concerto? Você chega com antecedência... afina seu instrumento de uma certa maneira...
Hary - Eu chego com alguma antecedência para fazer um check-in, assim como quem viaja de avião. Você tem que saber que o instrumento funciona, que não esqueceu de pegar os óculos certos, saber se a palheta está o.k., verificar se está com a alça do fagote... para não passar, por exemplo, por nenhum constrangimento como o que eu passei em uma das minhas primeiras experiências ainda como aluno na Alemanha: meu professor, querendo me dar a oportunidade de fazer um cachê entre figurões de orquestras profissionais, me indicou para tocar numa apresentação de My Fair Lady. Eu, crente que íamos ao ensaio da peça, quando me vi estava no palco com a turma, todos engravatados, a platéia lotada e eu nem sequer sabia o que ia tocar; também já não faz a menor diferença, pois até hoje não sei o que toquei. Eu fiquei tão nervoso, tão pálido, tão branco, tão roxo, tão qualquer coisa, que até esqueci a palheta na hora de entrar para o segundo ato. Aí, o espetáculo teve que esperar eu voltar lá nos bastidores, buscar a palheta e retornar como se fosse um grande solista. Colocaram até um clarinetista ao meu lado como “anjo da guarda” para ir me dando algumas dicas, mas acho que ele desistiu no meio do caminho... Olha, foi o maior sufoco! Se quiserem me fazer alguma vingança, me peçam para tocar My Fair Lady!

 

MBDizem que os instrumentistas têm certa aversão a maestros. Depois de tanto tempo tocando em orquestras, o que você acha disso?

Hary – O maestro pode ser uma benção, mas pode também ser um castigo. Se o maestro tem o que transmitir e consegue fazer a gente tocar melhor, ele com certeza é uma benção. E existem muitos deles. E existem outros que, eu diria, descarregam um pouco da sua insegurança ou da sua incapacidade nos músicos; aí é um castigo...

 

MBExistem incontáveis piadas sobre músicos, criadas e contadas pelos próprios. Na sua opinião, qual é a melhor piada contra os fagotistas?

Hary - Ah, os próprios fagotistas são uma piada... quem afinal se atreve a tocar um instrumento tão exótico, um tubo de aprox.2,5m de comprimento? além do fagote de a gente ter de constantemente explicar que fagote não é o mesmo que "pagode"...

 

MBVocê é um músico apaixonado pelo seu ofício e se tornou um construtor de fagotes igualmente apaixonado (com grande sucesso, diga-se de passagem). Como surgiu essa idéia?
Hary – Foi num contexto de brincadeira, sob o efeito de caipirinha (feita com cachaça da casa). Estávamos em casa, uma porção de gente. Aí, um ex-aluno meu, o Elione Medeiros, hoje exímio fagotista no Rio de Janeiro, me perguntou: Por que você não faz um fagote? Você sabe botar azulejo na parede, cria porco, faz palheta, faz cachaça de alambique, faz isso, aquilo e muito mais, porque não faz fagote também? Eu falei: Tá doido, rapaz! Mas ficou a semente. Mais tarde me perguntei: Por que não, se os outros também fazem? Aliás, já fazia acessórios, mandril, lingüeta, palheta...
Sofia, a esposa: Dias depois, ele chegou com uma champanha. Eu perguntei: o que é que houve? O que aconteceu? Ao que ele então respondeu: decidi. Vou fazer fagote.
Hary - Foi um desafio e uma conseqüência da situação do país na época. Existiam bem menos instrumentos e qualquer importação, além de difícil, era cara por causa dos impostos. Esse foi o começo.

 

MB E como aprendeu?

Hary – O aprendizado foi uma grande improvisação e autodidatismo, em todos os sentidos. Depois que decidi, descobri que não conhecia nada do instrumento. O músico toca, mas não se dá conta de como o seu instrumento é construído Aí, comecei a desmontar o meu instrumento para ver como era e descobri coisas do arco da velha que eu nem imaginava possíveis. (O aprender, na realidade, foi uma busca totalmente empírica em cima de um instrumento existente.) Entre o tocar e o fazer, o caminho é mais longo do que se imagina. Eu tive que aprender a mexer com madeira, com solda, com fundição; aprender a envernizar, a procurar materiais, a descobrir onde existiam esses materiais; tive que ir ao protético aprender como se tira molde para reproduzir as chaves... Depois de algum tempo, consegui um estágio na Alemanha para manutenção do instrumento, não era para construção, mas o fato de estar numa fábrica me abriu vários horizontes e me mostrou coisas que até então eu não tinha percebido.

 

MB – Falando em madeira, como encontrou a apropriada?

Hary – O Ibama havia analisado a madeira brasileira e sua correspondência com as madeiras européias usadas na construção de instrumentos. Segundo eles a muiracatiara seria própria para fabricar fagotes. Fiz uma experiência bem sucedida, os primeiros fagotes foram todos construídos com essa madeira; mas o fagote ficou muito pesado. Aí pensei na imbuia. Os pianos da marca Essenfelder eram feitos de imbuia. E se funcionava para piano, por que não funcionaria para os fagotes? Passei a procurar a madeira. Aí, por uma dessas casualidades... eu estava de férias em Santa Catarina e precisei de uma marcenaria. Lá, jogado num canto, encontrei um pedaço de madeira do tamanho exato para um fagote. Era um pedaço de imbuia! O marceneiro nem me cobrou. Tão logo voltei das férias iniciei a construção. O fagote ficou muito bom...A partir daí todos meus fagotes foram feitos em imbuia.

 

MB – Antes disso, quantos pedaços de madeira você desperdiçou antes de dar por concluído o seu primeiro fagote?

Hary – (Risos) dá para fogueira de uma festa junina inteira!

 

MBE as ferramentas, encontrou com facilidade ou precisou adaptar?

Hary – Foi uma contribuição, sem querer, do meu pai. Ele tinha uma metalúrgica e eu, embora não trabalhasse lá, via como as coisas funcionavam. Aí, baseado na arte da improvisação, comecei a fabricar as minhas próprias ferramentas. Claro que tive que fazer várias adaptações. Hoje eu tenho uma estrutura, ainda que de fundo de quintal, que corresponde a 90% do que é necessário para construir um fagote.

 

MBTambém faz as peças de metal?

Hary – Faço. É um conjunto que chega a mais de 150 peças. Umas fáceis de fazer, outras complicadas. E aí, preciso de uma fundição. Para o primeiro instrumento comprei um jogo cru de uma fábrica de fagotes na Alemanha. Depois, consegui um jogo extra do qual extraí os moldes que encaminhei para a fundição da fábrica Weril, que por sinal foi muito receptiva, uma grande companheira nesse trabalho. Os problemas na improvisação que eu não consigo resolver, eles me ajudam numa boa vontade extrema.

 

MBVocê trabalha sozinho?

Hary - Tive estagiários. Faço fagotes por hobby. Se eu contratar alguém, deixa de ser um hobby para se transformar numa obrigação; vou ter mais compromissos e aborrecimentos do que satisfações. Por isso estou sozinho neste lidar.

 

MB Mas você não tem vontade de passar esse conhecimento, até por uma questão de continuidade? Afinal você é o único fabricante na  América Latina, não é?

Hary – Acho que sim. Quanto ao passar os conhecimentos adiante? Tem tanta gente no mundo que faz fagote, eu não estou detendo segredo nenhum. O que eu estou detendo, vamos dizer, é minha habilidade pessoal de manejar madeira, parafuso, solda... mas se alguém quiser aprender, não tenho nada contra!

 

MBE o verniz? Também faz diferença como na fabricação de um violino, por exemplo?

Hary – Não. No instrumento de sopro, o determinante da sonoridade e da afinação é a perfuração. Nos instrumentos de cordas, determinante é a madeira, a caixa acústica. O verniz é grande responsável pela ressonância. Hoje em dia, os construtores de instrumentos discutem o que é mais ou menos importante. Existem várias correntes, mas de qualquer maneira, o percentual menor no fagote é o verniz.

 

MBPor que, então, se mantém uma uniformidade de cor? Tem a ver com certa formalidade? Você, certa vez ousou fazer um fagote branco, lindo, maravilhoso...
Hary – É uma questão de estética. Isso tem a ver com a nobreza da madeira. A madeira própria para se fazer fagote, sobretudo na Europa, é uma madeira clara. Madeira nobre é, por ex. o mogno que tem um tom avermelhado. A tintura aproxima a coloração de uma madeira nobre para a coloração de uma madeira própria para o instrumento. Como uso a imbuia que é marrom, tinjo de vermelho, mas também faço fagote na cor natural da madeira. A tonalidade é a gente que escolhe. Isso não exerce influência no som. O branco foi de uma parte uma encomenda e de outra uma “loucura” da minha mulher (risos).

 

MBSeus fagotes já alcançaram reconhecimento internacional, constam até em revistas especializadas...Tem muita procura? Pretende ampliar a fabricação?
Hary – Vamos dizer assim: todo mundo sabe que eu faço fagote. O portal do fagote, o site de fagote que administro, por conta das facilidades da internet é acessado no mundo todo. Tenho consultas para revenda e/ou representação de diversos países, mas não tenho produção. Se eu atender o Brasil, já fico feliz. A idéia de fabricar fagotes foi atender a gente aqui. Fico muito a pensar no testemunho de Luis Rossi, um clarinetista chileno, que começou a fazer clarinetas no mesmo esquema que eu. O empreendimento cresceu e ele se transformou numa empresa e se viu obrigado a contratar funcionários. A partir desse momento, ele me disse: “Eu tive que contratar também um médico para tratar da minha úlcera e tinha a obrigação de vender tantos e tantos instrumentos por mês só para pagar os impostos”.  Ele ficou escravo da situação. Da maneira como estou no momento, sou um artesão. Fabrico à medida que meu tempo, minha vontade, minhas forças, minhas mãos, meus olhos, minha cabeça o permitem... e nada disso tem me faltado até agora. Por isso dou graças a Deus.

 

MB –  Quanto tempo demora para fazer um fagote?
Hary – O primeiro levou uma vida, eu fiquei procurando, medindo, experimentando, jogando metais e pedaços de lenha fora durante um ano e meio. Hoje, depende do tempo que tenho. Como toco na orquestra, faço cachaça, tenho família, gosto de deitar numa rede, faço muita manutenção de instrumento... mas vamos imaginar: se eu trabalhasse das oito da manhã às oito da noite, num mês eu poderia lhe entregar um instrumento. Como não existe muita pressão, vou produzindo sem muito estresse, até porque também dependo dessa calma interior. Um erro, por exemplo, na perfuração da madeira, pode por a perder todo o trabalho.

 

MB – Se você tivesse que escolher apenas uma entre todas essas atividades que já exerceu e ainda exerce, qual escolheria?
Hary – Eu faria tudo de novo. Começaria improvisando, aprendendo do nada. Mas é até utópico pensar nisso. Eu não penso. Estou feliz e realizado com o que estou fazendo. Estou procurando não me estressar e acho que é por isso que as coisas ficam boas.

 

MBE na orquestra? Você fica contando o tempo que ainda falta para se aposentar?
Hary – Existe uma limitação natural: com a idade, o tocar fica mais oneroso. Os lábios ficam menos resistentes, os dedos menos ágeis. A gente olha para a aposentadoria como uma necessidade natural de ter que parar. Mas sem nenhuma ansiedade. Nada melhor do que um dia depois do outro...

 

MBE nessa situação, o que você escolheria fazer?

Hary – Possivelmente eu escolheria tocar porque, na situação atual, o tocar me dá uma garantia de salário no fim do mês, o fazer fagote não.

 

MBNo campo musical, ainda tem alguma coisa  que  pretende fazer?
Hary – Tenho ainda como projeto gravar um CD, algo assim como escrever um livro autobiográfico. Os orientais não têm uma máxima que diz: um homem para se realizar tem de plantar uma árvore, escrever um livro, criar um filho? Me falta o livro. Como sou mau escritor, vou arriscar o CD. Um CD diferente: ele vai retratar a trajetória de um fagotista em seu tocar, em seu ensinar e em seu construir.

OBS: o CD, que recebeu o nome de "Com licença!..." ficou pronto em fevereiro de 2006, com vários recitais de lançamento e, a julgar pelos depoimentos, com grande sucesso

MB – Baseado na experiência que adquiriu ao longo de tantos anos de carreira, que conselhos você daria àquele estudante cheio de esperanças que vai se deparar com as dificuldades de um campo, nem sempre tão promissor?

Hary – Olhar para frente e fazer o que acredita e o que gosta.

 

MB Hary, agradeço a gentileza de nos conceder essa entrevista. Gostaria de acrescentar algum comentário?

Hary – Quero ainda falar da alegria que a gente tem de poder fazer da música uma profissão, e ser feliz com ela... Finalizando, quero parabenizar pelo trabalho maravilhoso que Vocês fazem na Musimed, apesar de todos os problemas que têm de enfrentar e superar.

 

página inicial