, 7 de dezembro de 2006

Mãos e músicas

Fascinado pelos sons do fagote e pelas técnicas de fabricação do instrumento, o músico e Luthier Hary Schweizer mostra o repertório do novo disco hoje, no Teatro da Caixa
 


Nahima Maciel, da equipe do Correio

 

Adauto Cruz/CB - 27/2/06

Schweizer mostra repertório que transita entre erudito e popular
 

 
São necessárias mais de 500 peças para construir um fagote. O corpo em madeira recebe centenas de detalhes antes de virar aquele instrumento comprido, com uma haste que parece um bico, capaz de emitir um som grave, porém carregado de suavidade aveludada. Para cada instrumento, é preciso uma lapidação artesanal tão precisa quanto aquela necessária para extrair uma sonoridade perfeita. O fagotista Hary Schweizer não fornece essa explicação toda vez que sobe ao palco para tocar o seu fagote, mas espera que o público possa sentir o encanto do instrumento a cada vez que ele se apresenta. É um pouco com essa intenção que Schweizer estará hoje no Teatro da Caixa para apresentar o disco Com licença!…, gravado no início deste ano.

Schweizer não é um simples tocador de fagote. Foi seduzido pelo som do instrumento aos 27 anos – tarde para um músico cuja trajetória começou ainda na adolescência, com o piano. Dezoito anos depois, o músico foi fisgado novamente. Descobriu que, além da paixão pelo som do fagote, estava também encantado pela sua construção. Montou um ateliê no Lago Norte e virou luthier. E é essa combinação entre o fazer e o tocar que o instrumentista quer mostrar ao público hoje à noite. “É um evento para aproximar o fagote do público e mostrar um pouco da minha atividade artesanal e artística”, explica o músico, que é também um dos fundadores da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro (OSTNCS). “Um recital de qualquer instrumento tem que ter um ímã entre o artista e a platéia, então procuro seguir um certo roteiro, falar uma palavra que coloque em contexto a música que vou tocar.”

O próprio repertório, o mesmo do CD, serve de roteiro. Cada música conta um pouco da trajetória de Schweizer. Estão lá os dois tangos de Emílio Terraza compostos especialmente para os dois primeiros fagotes construídos pelo luthier. “Um dia o Emílio me falou: ‘Constrói um fagote que eu faço uma música para você’. Eu fiz o fagote e tive que cobrar a música”, conta. Três peças de Achim von Lorne, ex-professor do fagotista, ilustram a época de formação na Alemanha e um trecho da Bachianas brasileiras nº 5 completa a parte mais erudita do recital. Schweizer, no entanto, desconhece fronteiras.

Assim como escolheu o fagote tardiamente e se impôs o desafio de construí-lo, se recusa a colocar limites no próprio repertório. É forte o interesse pela música popular, expressa no recital e no disco, especialmente em Mágoas de fagote. A peça leva assinatura de Tom Jobim e foi garimpada por Schweizer na internet. Não se sabe se foi escrita para o fagote, mas o rascunho é uma curiosidade. A ele, se junta Lua branca, de Chiquinha Gonzaga, e Com licença!…, inédita, feita por Júlio Medaglia especialmente para o disco. A maioria das peças é executada em duos ou trios, sempre com destaque do solo para o fagote.

Durante o recital, também haverá um momento reservado para o documentário O artesão do vento, de Dora Galesso, ex-aluna de Schweizer no Departamento de Música da UnB. São 16 minutos de poucas palavras e muitas imagens captadas no ateliê do músico durante a confecção de um instrumento. “O vídeo conta como o fagote é feito e, ao mesmo tempo, vai mostrando como a música é criada”, diz Dora. Ao fundo, uma trilha sonora eletroacústica composta com os sons do ateliê e dos instrumentos em fase de teste ajudam o espectador a mergulhar no mundo do músico. Mundo reproduzido no recital de hoje, já que todos os fagotes e/ou fagotistas presentes no palco levam a assinatura de Schweizer.

COM LICENÇA!…
Recital de Hary Schweizer, com Flávio Lopes de Figueiredo Jr. (fagote), Gustavo Koberstein (fagote), Elza Gushikem (piano) e Paulo Marques (bateria). Hoje, às 21h, no Teatro da Caixa (Setor Bancário Sul, quadra 4). Ingressos: R$ 16 (inteira) e R$ 8 (meia).

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