Cuidando de seu fagote

Chip Owen

Fox Products Corporation

Este artigo é parte integrante dos artigos sobre manutenção de fagotes constantes do site da firma FOX e tem tradução autorizada.

 

Os fagotes são, dentre os instrumentos de sopro de madeira, aqueles que tem vida mais longa. A expectativa de vida de um fagote é comparável à expectativa de vida de uma pessoa. Da mesma maneira que esta tem de cuidar regularmente de seu corpo, assim também o fagote precisa receber cuidados regularmente.

O cuidado que o fagote recebe diariamente é de vital importância para ele. Nenhum outro cuidado tem influência tão profunda na vida do fagote. Cuidados diários estão concentrados no que diz respeito à limpeza interna e externa de seu fagote. Na parte interna a umidade precisa ser secada e sujeiras e óleos tem de ser removidos da parte externa.

Secando os tubos

A umidade sozinha se constitui no maior inimigo do fagote. Se ela permanece no tubo do fagote ela pode eventualmente causar sérios estragos. Além disso a umidade pode diminuir a vida útil do couro das sapatilhas.

Os tubos da asa e da culatra de seu fagote precisam ser secados apropriadamente depois de cada uso. Isso requer um secador que possa ser introduzido em um das extremidades de cada tubo e puxado para o outro. Nunca será necessário secar a campana e o baixo.

É especialmente importante que se use um secador que possa ser puxado de um lado a outro na culatra. O sistema antigo de escovas é incapaz de remover a umidade das partes mais importantes dos tubos nas proximidades da curva da culatra (tubo do U) e é incapaz de limpar a curva como um todo. Somente um secador de tecido consegue efetivamente secar a umidade nesta área da culatra.

Devido à diferença de diâmetros nos tubos da asa e os da bota é obviamente melhor de se usem limpadores distintos para estas duas partes.

Limpando a parte externa do fagote

Poeira ambiente, camadas de óleo e excesso de lubrificação no mecanismo, tudo conspira para depreciar a aparência externa de seu fagote. Uma limpeza periódica é necessária para permitir sempre uma boa aparência.

Pó é muito fácil de ser mantido sob controle. Uma pequena escova, tal como aquela de maquiagem, pode prestar eficiente trabalho de remover o pó por debaixo das chaves. Use uma escova de cerdas naturais; cerdas sintéticas podem por vezes riscar o verniz além de não absorver bem o óleo.

Cada vez que Você pega em seu instrumento Você deixa nele uma leve camada gordurosa. É desejável que se limpe essa gordura com um tecido macio quando for guardar seu fagote novamente no estojo. Gorduras podem provir também de outras maneiras, tais como vapores dos óleos utilizados no tratamento da madeira. Se estes atingem a galvanização podem deixá-la turva e embaçada. Uma limpeza regular da galvanização vai permitir vida longa e ao mesmo tempo deixar a galvanização limpa e brilhante.

Encaixes

Os encaixes das junções entre as partes do corpo devem ser lubrificados ocasionalmente. Aplique simplesmente uma porção de parafina de cera sobre a linha ou a cortiça. Parafina é excelente para isso além de ser limpa e pura. Graxa de cortiça é apropriada para junções de cortiça, mas nunca deve ser usada em junções enroladas com linha. Nunca use vaselina para as junções, pois esta somente serve para emporcalhar seu fagote!

A manutenção das junções de seu fagote vai fazer com que seu instrumento seja mais prazeroso de tocar. Enquanto alguns ajustes de junções requerem os serviços de um profissional qualificado, existem algumas coisas que Você mesmo pode fazer para resolver problemas menores.

Encaixes frouxos vão fazer com que as junções de seu fagote se movam enquanto Você toca. Além disso, encaixes frouxos podem causar vazamentos que vão comprometer sua execução. Algumas voltas de alguma linha acrescidas às já existentes podem resolver este problema. Encaixes que estejam muito apertados vão tornar dificultoso o montar e o desmontar do seu fagote. Encaixes presos não são tão fáceis de resolver e neste caso a visita a um técnico especializado em manutenção pode ser recomendado.

Lubrificação das chaves

Os pontos de contato das chaves precisam ser lubrificados periodicamente. A freqüência desta lubrificação depende em certa maneira do tipo de óleo que Você usa. Óleos sintéticos tendem a durar mais tempo do que os óleos derivados de petróleo. Aproximadamente uma vez ao mês preste atenção às chaves de seu fagote. Se elas estiverem fazendo barulho, está na hora de lubrificá-las.

A finalidade do óleo é proteger as partes de metal do contato entre elas. Se o mecanismo estiver trabalhando silenciosamente não há desgaste. Use um óleo mais grosso. Óleos finos não atendem nossa necessidade. O óleo precisa ser consistente o suficiente para proteger as partes de metal umas das outras.

A melhor maneira de lubrificar o mecanismo de seu instrumento é a remoção das chaves e fazer a aplicação diretamente nos locais a serem lubrificados. Uma alternativa para instrumentistas que não estejam dispostos a desmontar as chaves é a de usar uma agulha para aplicar uma gota de óleo nas extremidades de cada chave. Tenha a certeza de ter movimentado as chaves por alguns instantes para ajudar o óleo a penetrar nelas, caso seja necessário.

É importante usar um papel absorvente ou alguma ferramenta apropriada para remover todo o excesso de óleo dos mancais e do corpo do instrumento. Não esqueça de lubrificar as roldanas. Em alguns fagotes esta é a parte mais barulhenta a ser lubrificada.

Aplicando óleo na madeira

Este pode ser um tópico controverso. Existem diversos óleos que podem ser aplicados e existem diversas maneiras de aplicá-los. O que se segue tem a intenção de simplificar este assunto. Fagotes exigem óleo na madeira para poderem operar apropriadamente. A madeira é oleada como parte do processo da própria confecção do instrumento. Ela precisa portanto ser oleada durante sua existência.

Fagotes não requerem óleo frequentemente. Para muitos instrumentistas é suficiente que o corpo receba aplicação de óleo apenas durante o serviço de manutenção anual. A freqüência do óleo é determinada pela necessidade do instrumento por óleo. Se o óleo é absorvido rapidamente pela madeira, o instrumento precisa de uma aplicação de óleo; se o óleo permanece não absorvido, o instrumento não precisa de óleo.

Aplicação de óleo inapropriado pode causar sérios problemas. Alguns óleos deixam grossas camadas pegajosas na superfície da madeira depois de um certo tempo; é muito importante sempre remover da superfície da madeira o óleo não absorvido, antes que ele comece a secar. Demais óleo faz uma meleca. É melhor usar menos óleo mais vezes, do que muito óleo de uma só vez.

É preferível remover as chaves do fagote antes de fazer uma aplicação de óleo. Isso vai tornar a necessidade de uma eventual limpeza posterior mais fácil e vai prevenir que algum óleo escorra para as sapatilhas e as estrague. Se o óleo atingir as sapatilhas, elas precisam ser substituídas.

O óleo mais seguro a ser usado é um óleo mineral leve. Tome cuidado que seja um óleo mineral leve, não um óleo mineral pesado ou alcoóis minerais. É possível compra-lo na maioria das farmácias. Deve ser um óleo transparente, de secagem lenta, que penetre profundamente na madeira. Tal óleo não causa danos ao verniz e pode ser usado também com segurança para limpar a parte externa do fagote. O único problema que ele poderá causar é se for usado em demasia ou se cair nas sapatilhas.

Óleo de amêndoa doce é um óleo tradicional que pode funcionar bem. É um óleo que penetra lentamente e que tem qualidades duradouras. Ele normalmente é denso e precisa ser diluído em igual quantidade com óleo de parafina. Óleo de linhaça foi usado por muitas gerações, mas pode ser de difícil aplicação. Ele tem qualidades de penetração nos poros, é de secagem rápida e por isso pode causar problemas. É melhor que seja usado por alguém que tenha familiaridade com estes problemas potenciais.

É difícil recomendar óleo para madeira vendido em algumas lojas. A identificação “bore oil” não identifica o conteúdo real do frasco. Além disso ele provavelmente foi formulado para ser usado na grenadilha das clarinetas e oboés e não para o plátano dos fagotes. Os antigos limpadores em forma de escova, que não são bons para secar a umidade do fagote, são excelentes para a aplicação do óleo. Uma pequena quantidade de um óleo mineral leve ou de um óleo de amêndoa doce diluído pode ser aplicado sobre a “escova” com a qual então se aplica por dentro da campana, do tubo do baixo e no tubo não revestido da culatra. Não use muito óleo; menos é sempre melhor que demais. Remova a válvula da culatra; atente à área próxima à válvula, pois ela é a parte mais importante de todo o fagote a receber óleo.

Esteja certo que removeu o excesso do óleo do fagote, depois de um certo tempo. Óleo de linhaça tem de ser enxugado em menos de uma hora. Outros óleos que demoram mais a secar podem esperar mais tempo, mas os excessos precisam ser removidos depois de algumas horas.

Bocais

Bocais precisam ser limpados periodicamente. Se não forem limpados, eles podem acumular uma quantidade considerável de sujeira em seu interior. A cada mês eles precisam ser limpados com uma escova de bocal e água corrente. A cortiça precisa ser lubrificada com parafina ou graxa de cortiça. A cortiça solta precisa ser substituída, pois pode causar vazamentos e assim comprometer a execução. Se a cortiça estiver muito apertada pode levar o bocal a empenar e/ou a rachar na hora de retirá-lo do fagote

Limpando a galvanização

Existem alguns produtos disponíveis para limpeza e polimento de superfícies galvanizadas. Tome cuidado antes de usar alguns deles. Alguns dos produtos de limpeza usam uma química que pode causar estragos aos parafusos de aço que permanecem no lugar das chaves. A maioria dos polidores usa abrasivos que pode causar desgastes desnecessários nos pontos de contato entre as chaves. Estes limpadores e polidores são comumente pensados para serem usados em artigos que podem posteriormente ser lavados. Por causa desta condição, que criaria uma nova leva de problemas para o conjunto do mecanismo do fagote, estes produtos não são recomendados.

A maneira mais fácil de limpar a galvanização é o uso de uma flanela polidora (flanela de joalheiro). Estas flanelas são comumente impregnadas com abrasivos leves que dão um brilho elegante às chaves. O uso regular de tais flanelas dá uma boa aparência às superfícies galvanizadas.

Revisando seu fagote

Uma manutenção completa em seu fagote deve acontecer anualmente. Esta revisão geral vai deixar seu fagote funcionando em condições ideais.

Esta manutenção inclui a remoção de todas as chaves. O trabalho no corpo vai ajustar os encaixes, aplicar óleo na madeira e proceder uma limpeza geral. Vão ser observados eventuais danos no corpo do instrumento e vai ser checado todo o sistema da válvula da culatra.

O trabalho nas chaves vai incluir sua limpeza (não necessariamente o polimento), recolocação de cortiças eventualmente faltantes ou que estejam se soltando, substituição de sapatilhas que não iriam resistir por mais um ano, lubrificação geral e ajustes.

Algumas oficinas de manutenção oferecem a chamada manutenção “playing condition” (em condição de uso) ou as assim chamados “pc”s. A manutenção tipo PC não oferece um serviço adequado e precisa ser evitado, pois nela se faz apenas o mínimo necessário e apenas o óbvio. Insista num serviço completo para seu fagote

Reparos técnicos

Fagotes são os mais excêntricos dentre todos os instrumentos de sopro entre as madeiras. Técnicos que fazem um excelente serviço em outros instrumentos de sopro frequentemente não entendem as idiossincrasias do fagote. Esteja certo que Você esteja entregando seu fagote a um técnico que realmente entenda as qualidades específicas do fagote.

Achar um técnico qualificado na manutenção de fagotes pode nem sempre ser fácil. Se Você estiver tendo dificuldades em encontrar um, entre em contato com um fagotista profissional próximo a Você e peça recomendações.

CHIP OWEN é contratado da firma FOX desde 1968. Desde então suas responsabilidades incluem a produção do contrafagote, atendimento ao cliente no tocante a consertos e o departamento de acessórios. Obrigações adicionais envolvem o desenvolvimento de projetos de mecanismos especiais para fagote e contrafagote, contatos com os clientes e outros projetos especiais. Ele é o contato primeiro da Fox para informação técnica e reparos do fagote. Também ministra palestras sobre a fábrica Fox. Chip tocou fagote e contrafagote e foi contrafagotista da Filarmônica Fort Wayne por mais de 25 anos. Entre outras realizações, planejou numerosos melhoramentos no fagote e contrafagote, dentre os quais o mais destacado foi a patente concedida como co-inventor de Arlen Fast do sistema Fast de contrafagote. Ele é amplamente conhecido entre os técnicos em manutenção de fagote e é Clínico Mestre pela Associação Nacional Profissional dos Técnicos em Conserto de Instrumentos de Banda. Ele pode ser contatado junto à Fox pelo e-mail: chip.owen@foxproducts.com

 

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