A UTILIZAÇÃO DO FAGOTE no decurso da história

Rainer Schottstädt

(comentários do encarte do CD Fagotissima Terzia)

 

O FAGOTE na qualidade de instrumento solista é relativamente pouco utilizado. Nossos programas de concertos sinfônicos incluem na maioria das vezes concertos para violino, violoncelo ou piano; concertos para algum instrumento de sopro por sua vez são um assunto mais raro. Não se consegue, no entanto, imaginar uma orquestra sem o fagote. Por exemplo, na época do barroco o fagote servia ou para reforçar a linha do baixo contínuo ou para realçar o colorido sonoro; desde os primórdios do classicismo o fagote é tratado como fundamento do conjunto de sopros, nessa época cada vez mais autônomo, inclusive com cada vez mais freqüentes passagens solistas (Haydn coloca muitas vezes o fagote em paralelo com a voz do primeiro violino) e eventualmente também como instrumento solista, na tentativa de seguir os experimentos de Vivaldi. Talvez exatamente por causa disso possamos considerar uma acaso feliz que Mozart tivesse escrito um concerto para fagote; caso contrário o fagote teria sido relegado ao posto de apenas reforçar o baixo. Ao tempo de Mozart surgiram inúmeras serenatas para sopros e músicas de harmonia (reduções para conjuntos de sopros de óperas e outras obras), que seriam inimagináveis sem o fagote e mesmo sem o contrafagote. Ainda mais se evidencia a importância do fagote em conjuntos de sopros - trios e quartetos - não importando a instrumentação, mas sempre incluindo o fagote.

Verdi, Berlioz, Richard Strauss, Debussy e outros compositores incluíram na grande orquestra sinfônica ou mesmo na orquestra de ópera até quatro fagotes, três ou quatro fagotes com contrafagote, e isso não somente como base de um grupo de sopros, mas como um corpo sonoro próprio. Exemplos clássicos são o Requiem de Verdi, Till Eulenspiegel de Richard Strauss, Symphonie fantastique de Berlioz ou La Mer de Debussy. O fagote foi contemplado pela maioria dos compositores (exceção talvez feita a Bruckner) com passagens solistas em igualdade de condições com os demais instrumentos de sopro; sendo que Tschaikowsky, Stravinsky e Shostakowitsch tinham um apreço especial pelo fagote.
O que faz o fagote ser tão interessante? Primeiramente em função de sua grande extensão (do Si bemol grave até o mi4 e eventualmente ainda mais agudo) o fagote pode ser usado tanto como instrumento baixo, quanto como voz intermediária e/ou acompanhante além de poder ser utilizado como instrumento melódico; é também capaz de expressar os mais diversos afetos: burlesco, lírico, lamentoso, grotesco ou melancólico; além disso ainda é impressionante o virtuosismo possível neste instrumento.
O contrafagote é naturalmente em primeira linha um instrumento baixo, no entanto recebeu passagens solistas consideráveis que chamam a atenção do público, sobretudo em óperas de Richard Strauss (Salome, Elektra), Alban Berg (Wozzek) ou Shostakowitsch (Lady Macbeth de Mzensk); se tal não fosse o contrafagote ficaria relegado a uma imperceptível presença no fosso de orquestra.
Quando se fala em "quarteto" pensamos logo no quarteto de cordas, quarteto de piano ou quarteto de flauta (nestes casos: piano mais trio de cordas ou flauta mais trio de cordas); quando se fala em "quinteto" ocorre naturalmente a formação clássica do quinteto de sopros (flauta, oboé, clarineta, trompa, fagote), quinteto de piano, quinteto de clarineta (piano ou clarineta mais quarteto de cordas) ou outras formações semelhantes. Quartetos de flauta em outras formações, a saber como quatro instrumentos de uma mesma família são menos conhecidos; ou ainda quartetos da mesma família integrados por outros instrumentos é ainda mais raro. Justamente nos últimos anos surgiram vários conjuntos de fagote em todo o mundo e com isso também a necessidade de criar ou de se "desencavar"  uma literatura específica; pelo menos é isso o que atestam os inúmeros novos títulos das editoras e os mais diversos manuscritos...

 

... neste  ponto o comentário do CD Fagotissima Terzia fica sendo específico para as peças do repertório do próprio CD.

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