CD em foco

 

paradoxos para todos, adolfo almeida junior

 

1 caverna (Adolfo)
    2 multisopros (Adolfo)
3 dueto (Adolfo)
    4 jazz (Adolfo/Diogo/Ventania)
    5 tango (Adolfo e Teco Cardoso
    6 bambu e cerâmica (Adolfo & Ventania)
    7 improviso 4X (Adolfo & Ventania
8 agito (Adolfo & Teco Cardoso)
    9 latofone (Adolfo & Fabio Mentz)
    10 fg & pf (Adolfo & Diogo de Haro)
    11 duelo fraterno (Adolfo & Teco Cardoso)
    12 multitrack (Adolfo & Ventania)
    13 solo (Adolfo)
    14 nuvens femininas (Adolfo & Ventania/Gerson Costa
    15 nuvens masculinas (Adolfo & Ventania/Gerson Costa)
    16 manequim (Arthur de Faria/Gerson Costa)
    17 ocarina (Adolfo)
 
do encarte do CD:
"recomenda-se que o CD não seja ouvido na íntegra sob risco de causar forte estresse mental. Deve-se ter a precaução de ouvir em parcelas não superiores a três faixas para absorver os benefícios advindos do exercício, devido a sua densidade."

"este é um disco de improvisações. Nada foi pré-composto, nem ensaiado, nem combinado. Tudo é improvisado, com exceção de "Manequim". Podem-se ouvir "erros", desafinações, dfesencontros, e "acertos" parece música escrita!... Uma coisa é certeza: é totalmente verdadeiro. Fiz o que me deu vontade neste momento e curto o resultado musical. Tenho a pretensão de realizar mais do que o CD em si. Quero lembrar a todos que estamos vivos! porque música é arte, arte é expressão, e expressão é nossa centelha de vida..."

depoimento de Adolfo de Almeida Jr.:
As razões que me levaram à realização deste disco são muitas. Algumas delas podem ser explicadas, como o fato do custo desta produção ter sido inteiramente assumido por mim. Isto foi possível por eu contar na época com um segundo emprego, na Orquestra Unisinos, uma realidade que durou pouco e que terminou quando eu estava com todas as gravações feitas. Então concluí a empreitada mesmo em uma situação que normalmente não permite um gasto de tal vulto em algo tão questionável quanto ao seu retorno. Considerando financeiramente está sendo um desastre absoluto, pois não estou conseguindo retorno monetário do que gastei. Como realização pessoal e artística, considerando a repercussão, tem sido ótimo, eu nem contava com tanto reconhecimento.
A parte da produção foi muito tranqüila e o custo de gravação foi relativamente baixo porque a proposta de gravações ao vivo de improvisações livres permitiu o uso de poucas horas de estúdio. Só enfrentei um pouco de dificuldade para definir a capa que passou por um projeto que eu rejeitei antes de chegar ao definitivo.
Utilizei diversos estúdios por vários motivos, inclusive de economia. O único gasto que seria dispensável foi com a gravação que fiz em uma caverna que fica no interior do estado do RS e precisei viajar até lá. Mas eu estava fascinado por esta caverna e querendo saber como soaria tocar fagote lá dentro, e como influenciaria uma improvisação musical, além de ser exótico e um diferencial para o CD. Os técnicos com os quais eu trabalhei foram aplicados e souberam extrair um bom resultado nas gravações em geral, usando dois microfones para o fagote, enquanto a masterização conseguiu uniformizar e compatibilizar as diferentes origens destas gravações.
Quanto aos músicos que participaram comigo existem algumas categorias diferentes de interação com as minhas intenções musicais, digamos assim. O percussionista Luís Tavares, que eu chamo de Ventania, compartilha comigo estas experiências de improvisar livremente desde 1986 quando nos conhecemos na função de músicos em uma peça de teatro. Mais recentemente conheci o pianista Diogo de Haro, de Florianópolis, que já é reconhecido como improvisador e estava em Porto Alegre fazendo mestrado. Nós três fizemos umas seções onde constatamos a viabilidade de deixar improvisar livremente contando com a sensibilidade de cada um.
Com o Fábio Mentz e o Teco Cardoso foi diferente. O Fábio toca segundo fagote comigo na OSPA, e eu já sabia que ele gostava de improvisar, mas nunca havíamos tocado juntos. E o Teco, que eu conheci no projeto Um Sopro de Brasil, eu nem sabia se iria entender a proposta, pois apenas o busquei no hotel, já que ele estava em Porto Alegre para um show do grupo Pau Brasil, e o levei para o estúdio; pedi que apagassem as luzes, e disse que não queria combinar nada antes de tocar, e que não queria me basear em um tema, mas no desenvolvimento do som em função do outro. Depois ele disse que em alguns momentos até ficou meio assustado, mas correspondeu de forma maravilhosa, numa interação tal que eu fiquei com a impressão de estar tocando com um irmão que eu não via há tempo.
A participação do Arthur foi para quebrar e representar a exceção, ao mesmo tempo que está sinalizando que reconheço a importância dele neste meu trabalho. Acontece que só após eu participar do projeto Um Sopro de Brasil e ser muito aplaudido e elogiado por minha improvisação livre, que eu decidi fazer o CD, pois vi que essa minha proposta pode ser aceita pelo público. E eu fui convidado a participar no Sopro de Brasil após ter feito shows com o Arthur de Faria e Seu Conjunto em São Paulo e ter mostrado uma utilização diferenciada do fagote.
As vozes declamadas são de artistas amigos meus, Cristina Cambeses e Catulo Parra, assim como o poeta que me cedeu os poemas, Gerson Costa, e o guitarrista, Marcelo Corsetti, que trabalha com computador e levou as gravações das improvisações com o Teco para casa, e acrescentou efeitos de nove guitarras criando aquela ambiência eletrônica.
Pensando bem, eu tive muita sorte na realização deste CD, convidando as pessoas certas e sensibilizando-as com minha proposição de realizar um trabalho tão idealista e puramente musical, sem freios ou arreios.
Creio que atualmente está se desenvolvendo um interesse por música improvisada, com o surgimento de festivais deste tipo de música, e a busca do público pelo diferenciado em vários níveis como reação à massificação.
Para os fagotistas eu insisto que este não é um CD de fagote, mas de um fagotista que utiliza o instrumento exploratoriamente em uma experiência de música improvisada. É interessante ver o fagote sendo utilizado de forma não usual e inventiva.
Para os músicos em geral eu ouso dizer que, assim como podemos regravar uma peça qualquer e o valor desta versão estar em si na re-realização e nas suas características próprias, podemos gravar algo nunca registrado, ou uma estréia, ou podemos improvisar mais ou menos livremente e assim estar acrescentando possibilidades de audição e de expressão.
Para aqueles que acham que tanta liberdade pode ser perigoso, pois balança com o stablishment, eu afirmo que nada temam. Apesar de ficar demonstrado que a música pode ser uma atividade lúdica entre as pessoas e que cada um pode exercitar sua capacidade musical de forma a tornar a arte da música uma experiência prática ativo-criativa e instantânea, sem escolas, modelos de belo ou aceitável, convenções e praxes, nós sempre gostaremos de ouvir coisas produzidas, previamente preparadas, pensadas, compostas, pré-elaboradas. Apenas ampliaremos a participação elaborativa de todos no universo da música.
Creio que hoje em dia gravar um CD se tornou obsoleto como produto, ou como meio de difusão de um trabalho musical, mas ainda é um importante componente de currículo; agora eu tenho um CD próprio, e isso dá mais credibilidade ao meu trabalho e minha proposta de música improvisada. (Adolfo Almeida Jr. - out./2007)
comprar CD:
www.antaresmusica.com.br

 

outros CDs de Adolfo de Almeida Jr.:
  • Trio Brasileiro
  • Majestic
leia a entrevista Adolfo de Almeida Jr.
 

página inicial