A invenção do fagote data do século XVI. Foi um padre italiano,
Afrânio Dégli Albonesi, quem teve a idéia de juntar duas bombardas (o
baixo do oboé, na época), formando um novo instrumento, ao qual deu o
nome de fagote. Assim, o fagote é na realidade o baixo do oboé e o seu
histórico, antes do séc. XVI, é o mesmo desse instrumento. Desde suas
primeiras aparições na arte ocidental, que datam dos séculos XII e XV, o
oboé passou por grandes transformações. Neste período ele se alonga e
toma o nome de bombarda. Mais tarde será um baixo desta bombarda que,
dobrado em dois, dará ao fagote a sua forma primitiva. Paralelamente à bombarda, apareceu no século XV um outro instrumento de palheta dupla
chamado cromorne, que de sua forma característica se origina talvez o
oboé d'amore. Da mesma época do nascimento do fagote podemos citar a
serpente (uma mistura de bombarda e cromorne) cuja forma humorística,
bastante engenhosa, permite a aproximação das chaves. O primeiro
fabricante de fagote foi Basilius, mas quem deu a sua forma definitiva
foi o alemão Sigismund Scheltzer, no começo do séc. XVII, chamando-o "dulcine
fagotto" ("dulcine", porque este instrumento se caracterizava pela
emissão de sons doces). Michel Praetorius nos assinala a existência de
uma família inteira de fagotes, que se estendia sobre cinco oitavas. O fagote que no início só comportava quatro chaves, passou por
aperfeiçoamento, deram-lhe os nomes mais diversos, como por exemplo,
courtaud, raketen, cervelas e outros mais. Desde 1875, no entanto, ele
passou a se chamar fagote. E o seu mecanismo se desenvolveu até chegar a
possuir vinte e duas chaves. E é quando começa a ser empregado nas
bandas militares, nas Gardes Françaises, nos Uhlaus do Marechal de Saxe
e nas bandas russas sob o reinado de Pedro, o Grande. Na França, no séc.
XVIII, existiam fagotes como os usados hoje nas orquestras sinfônicas e
outros com um volume maior de som, empregados certamente nas bandas
militares. Um destes fagotes de som volumoso era chamado de fagote
russo, e possuía um grande pavilhão em metal semelhante ao dos
trombones. Cambert foi um dos primeiros compositores a empregá-lo em sua
orquestra, no ano de 1671. Mas seu papel se limitava a alguns baixos,
para sustentar o conjunto ou tocar em uníssono com os cantores ou
instrumentos como contrabaixo e violoncelo. À medida que a técnica do
fagote foi se aperfeiçoando, foram-lhe confiando obras mais ou menos
importantes. Um dos concertos de Johann Christian Bach foi escrito para
fagote. Vivaldi escreveu mais de vinte que foram editados ultimamente
sob a orientação de Malipiero. Em todas as suas composições Mozart o
empregou de uma maneira genial. Nas suas sinfonias e música de câmara
explorou todos os recursos do fagote, para o qual escreveu dois
concertos (destes o mais conhecido e tocado é o em si bemol).
O fagote tornou-se, portanto, instrumento clássico da orquestra
sinfônica, ocupando no quarteto de madeiras o lugar do violoncelo no
quarteto de cordas. Daí em diante os compositores passam a usar o
instrumento com maior freqüência e escrevem obras difíceis, que exigem
do fagotista grande virtuosidade. Na orquestra sinfônica moderna são
empregados três fagotes e um contrafagote (que é um fagote afinado uma
oitava abaixo). Entretanto existem obras que necessitam de maior número
desses instrumentos. Na França, por exemplo, no começo da terceira
república, o compositor Lesuer utilizou dezenove fagotes no seu Hino
Patriótico.Como primeiros virtuoses do instrumento podemos citar os nomes de
Shubert, Ritter e Jadin. Haydn também tocava fagote e o avô de
Rimsky-Korsakov era fagotista na orquestra de São Petersburgo. O fagote
foi introduzido como instrumento solista em Paris no ano de 1735 pelos
irmãos italianos Besozzi e depois por Eichner.O primeiro grande
virtuose do instrumento na França foi Etienne Ozy, que estreou como
solista nos "Concertos Espirituais" em 1779.
O fagote atual é feito inteiramente de madeira, com um mecanismo
metálico composto de 22 chaves. Um dos pontos característicos do
instrumento é sua palheta dupla, semelhante à do oboé e a do corne
inglês. Enquanto a clarineta possui uma embocadura feita de uma só
palheta, a do fagote é composta de duas lâminas de madeira fina. As duas
partes, flexíveis, batem uma contra a outra, sob a ação do jogo de ar. O
som que daí resulta é amplificado ao passar pelo tubo do instrumento.
O comprimento total do tubo é de aproximadamente dois metros e cinqüenta
centímetros. Como já dissemos antes, é um baixo de bombarda dobrado em
dois (com a curva em U); uma das extremidades de um desses tubos é
recurvada (em forma de S) para permitir uma maior comodidade ao
instrumentista. Nas gravuras dos séc. XVI, XVII e XVIII podemos ver músicos
tocando bombarda e cromorne com embocadura de trombone. Mas no fundo
dessa embocadura se encontra uma palheta fixada sobre o tubo, de modo
que ao soprá-la vigorosamente a palheta vibra como se fosse soprada
diretamente pelos lábios. O fagote não é um instrumento transpositor.
Ele é afinado em dó. Sua extensão é considerável e vai do si bemol abaixo
do dó grave do violoncelo até o fá, três oitavas acima.
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