Conversa de fagotista |
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- elione alves de medeiros - |
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portal - Quais são atualmente suas atividades relacionadas ao fagote? |
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Elione - Atuo como 1° fagote solista e chefe de naipe da OPS Orquestra Petrobrás Sinfônica), além de ser Presidente da Diretoria Artística da mesma. Dou aulas de fagote e música de câmara na UNIRIO; além disso, esporadicamente toco com algum grupo de câmera ou ainda na OSTM, quando acontece algum evento operístico ou de ballet com produção.
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portal - Predileção por alguma dessas atividades? | |
Elione
- A OPS tem me dado mais prazer.
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portal - Vida de fagotista é possível? | |
Elione
- Ainda acho possível. No Brasil
existem lugares ao sol para os fagotistas que se empenhem em executar
seu instrumento com dignidade. Mas não é fácil, lembrando que já foi
muito pior! Hoje temos muitos recursos, temos até quem fabrique o
instrumento no Brasil. Temos facilidades de obter acessórios para o
fagote. Quando comecei a estudar tinha de esperar horas para chegar
minha vez de pegar o fagote da Escola de Belas Artes, pois havia apenas
2 fagotes para 7 alunos!
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portal - Como se deu sua escolha pelo fagote? | |
Elione
- Eu não escolhi o fagote, escolheram
para mim; o fagotista e professor Mario Câncio me levou na Escola de
Belas Artes de Recife e, mostrando um fagote no canto de
uma sala, me disse: "Aquele é o instrumento que você vai estudar".
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portal - Como é seu relacionamento professor/aluno? | |
Elione
- procuro deixar o aluno bem à
vontade, busco conhecê-lo psicologicamente para poder ajudá-lo a
desenvolver sua capacidade. Me preocupo muito com a base que o aluno
deve construir para desenvolver sua técnica. Me considero muito
paciente a fraterno. Mas na hora de "apertar" eu procuro
chamar o aluno a razão.
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portal - Como é ser fagotista num estúdio de gravação? | |
Elione
- Eu acho difícil no que concerne a
questões sonoras, geralmente o operador de som desconhece o instrumento
e não sabe tratá-lo acusticamente. Por outro lado, os arranjadores na
sua maioria não sabem escrever para o fagote por falta de
familiaridade. Geralmente são arranjadores de música popular. Porém
tive alguma sorte com outros músicos que souberam arranjar bem para o
fagote tratando-o com criatividade musical, utilizando sua capacidade técnica.
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portal - Noel Devos e Francisco Mignone são dois nomes aos quais Você tem uma ligação muito estreita... | |
Elione
- Devos foi meu professor aqui no Rio e
costumo informar nos currículos que me formei na UFRJ sob a orientação
artística de Devos, porque a técnica e a base sólida que tive e que
me possibilitou entrar como primeiro fagote no Teatro Municipal do Rio
de Janeiro em 1979 eu a obtive com Hary Schweizer. Mignone
foi tema da minha Dissertação de Mestrado sobre as 16 Valsas para
fagote solo, e isso tem um a relação estreita com Devos, que também
me orientou no Mestrado. Pude também ter a chance de trabalhar com
Mignone como regente na OSTM.
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portal - Seu nome aparece cada vez com maior freqüência no circuito internacional... | |
Elione
- Pois é, eu tive o privilégio de dar
aulas em Caracas para uma classe de excelentes alunos e agora em abril
estarei dando um recital na Embaixada do Brasil em Berlim, depois irei
para Londrina ministrar o curso de férias de julho. Creio que devo isso
a uma fase boa da minha vida, ao reconhecimento das pessoas que me dão
essas oportunidades, pois pouco faria se dependessem exclusivamente de
mim a promoção ou a busca de algo em meu proveito profissional. Estou
empolgado nesse ano e quero também gravar as 16 valsas para fagote solo
de Mignone, o que fará parte de uma pesquisa de doutorado futura.
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portal - e seu concerto a acontecer em Berlim? | |
Elione
- Esse concerto está me dando a
possibilidade de estudar como nunca! Vou tocar 4 valsas de Mignone (Mistério,
Macunaima, Valsa-choro e 6ª valsa brasileira), além disso tocarei Kuru
de Angélica Faria. Com o pianista tocarei Desafio 12 de Marlos
Nobre e os 3 estudos de Siqueira, tocarei também a Ária de Bachianas
5, isso porque o pianista ouviu a versão fagote/piano no CD "Com
licença!..." de Hary Schweizer, se entusiasmou com a versão e fez
questão que eu a colocasse no repertório. Esse recital é dividido
entre mim e o pianista que tocará também algumas valsas de esquina do
Mignone, e faremos uma comparação entre essas valsas e as para fagote;
vai ser interessante, o recital todo fica entre 70 minutos. Minha
participação será de 45 minutos. Fico
apenas preocupado como as palhetas irão reagir! Já fiz umas 35
palhetas!
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portal - 35? não é demais? | |
Elione
- coisa de fagotista...
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portal - Sei de seu interesse e curiosidade pelos meandros da alma humana... | |
Elione
- Tenho uma formação espiritualista,
sem misticismos, mas voltada para uma filosofia de vida que busca a
compreensão natural da vida, seu rumo infinito e seu comportamento
nessa e noutra dimensão. Creio que não somos daqui, e que ninguém
veio para esse mundo apenas para comer a sobremesa.
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portal - Quando eu (Hary) comecei minhas atividades na Universidade de Brasília em 1977 eu era um fagotista recém-formado e Você um ávido aluno. Como conseguiu sobreviver ao fato de ter sido "cobaia" de minha inexperiência? | |
Elione
- mais do que ser cobaia, acredito que
fui um sortudo! Você estava recém formado e recém chegado da
Alemanha, cheio de entusiasmo para ensinar o que havia aprendido com seu
professor Achim von Lorne. E eu seu primeiro aluno! Confesso que o
meu entusiasmo superava o entusiasmo que vejo nesses alunos daqui do Rio
e ainda me lembro da minha primeira aula no seu apartamento recém
alugado na Asa Norte, e quase sem mobília, Mathias seu primeiro filho
ainda era recém nascido, e Sofie sua esposa nem falava português..
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portal - algo mais? | |
Elione - Acho que já falei o bastante... quem se interessar pode ler um pouco de meus artigos: | |
EDIÇÃO E INTERPRETAÇÃO DAS "16 VALSAS PARA FAGOTE SOLO DE F. MIGNONE
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