obras de compositores brasileiros

para fagote solo

dissertação de mestrado, UNI-RIO, 1999

ARIANE PETRI

 

AGUIAR, ERNANI (*1950, Petrópolis, RJ)

Meloritmias nº 3 (1979, Rio de Janeiro ou Petrópolis)

Obra sem dedicatória

Estreada por Elione Medeiros em 25/10/1989, na Universidade do Rio de Janeiro

Partitura editada pela editora Novas Metas (atividades encerradas): São Paulo, 1988, No. 50020.

Revisão realizada por Francisco de Assis A. Formiga

Em três movimentos:

I - Moderato

II - Lento

III - Allegro

Duração: total netto: 5’00’’; I - 1’30’’, II - 1’45’’, III - 1’45’’

A peça para fagote faz parte de uma série de peças solo para instrumentos de cordas e de madeira, todas intituladas Meloritmia, palavra criada pelo compositor. O ciclo é composto por:54

  • Meloritmias nª 1 para flauta (1972), duração 4‘00’’, estréia em 1989

  • Meloritmias nª 2 para violoncelo (1975), duração 5‘50’’, estréia em 1980

  • Meloritmias nª 3 para fagote (1979), duração 4‘30’’55, estréia em 1989

  • Meloritmias nª 4 para violino (1987), duração 6‘30’’, estréia em 1988

  • Meloritmias nª 5 para viola56 (1987), duração 8‘33’’, estréia em 1988

  • Meloritmias nª 6 para violino (1990), duração 6‘20’’, estréia em 1993

  • Meloritmias nª 7 para flauta (1995), duração 4‘50’’, estréia em 1995

  • Meloritmias nª 8 ‘Lembranças’ para clarineta (1989/1996), duração 6‘15’’, estréia em 1996

  • O compositor pretende continuar o ciclo com obras para saxofone e oboé.

A peça é fundamentada num modalismo que lhe dá o colorido brasileiro e ao qual é acrescentadomais ou menos cromatismo. Ela se concentra na região central e grave. As articulações são relativamente poucas e colocadas conforme as possibilidades e necessidades do fagote, porém, a grande maioria das notas é em non legato.

No Moderato, em forma A/B/A’/Coda, o compasso 12/8, as síncopas e a articulação de uma colcheia em non legato com duas ligadas em seguida (como se pode observar no c. 1, nas primeiras três colcheias, ou vice versa, nas três últimas colcheias do quarto tempo), contribuem para a índole dançante das seções A (c. 1-9) e A’ (c. 23-34). Em B (c. 10-22), onde inúmeros compassos (um quarto do total) são acéfalos porque levam pausa no tempo 1, ocorre mudança no tipo de articulação e no fluxo do movimento, mudança acompanhada de variações de agógica (accell., rall. e rubato), que lhe emprestam um carater de recitativo.

A estrutura do Lento é definida pela quadratura, em 8+4+8 compassos, com ainda dois compassos de coda, organizados no forma A/B/A’/Coda. O processo construtivo se dá por reiteração e variação do motivo inicial , incluindo inversão e retrogradação, com liberdades no que se refere às relações intervalares. Com exeção da coda, todas as seções têm a feição de tensão - relaxamento, obtida com os recursos de dinâmica, mudança de direção e ampliação dos intervalos. O ritmo, inicialmente um ostinato estático, fica mais movido pelas colcheias na seção central. A coda é uma alteração cromática do retrógrado do motivo inicial.

O Allegro, baseado na escala nordestina com quarta aumentada e sétima abaixada, é construído a partir de inversão, transposição, variação melódica e segmentação dos quatro compassos iniciais. Como o material em todos os três movimentos é bastante homogêneo e ao mesmo tempo segmentado por cesuras em partes pequenas, frequentemente de um compasso só, o intérprete precisa traçar um plano estrutural para saber valorizar devidamente cada segmento sem deixar de integrá-los num plano maior.

Os movimentos são curtos, mas densos, o que torna necessário uma resistência prolongada. As semicolcheias quase que contínuas no Allegro, interrompidas somente por apoios em colcheias ou por poucas pausas, cesuras e fermatas, têm ligaduras curtas e detalhadamente variadas. Estas e a colocação (ou não!) de appoggiaturas exigem um cuidado especial. A preocupação nos trechos em staccato não deve ser o andamento, que não é muito rápido, mas sim a leveza desse staccato.

Ao mesmo tempo em que as dificuldades técnicas da peça não são grandes, é necessária, para uma interpretação convincente, a capacidade de se pensar em estruturas grandes, nas relações entre as várias seções e no contexto do segmento tocado. Porém, não é possível medir ou graduar este tipo de exigência, razão pela qual não entrou nos ítens abordados na avaliação do grau de dificuldade. Pelas exigências técnicas, a Meloritmias nª 3 se enquadra no nível intermediário II; todavia, pensando-se nas razões expostas acima, não é recomendável a um fagotista tocar esta peça se, com ela, chegar aos seus limites musicais. Segundo o compositor, a presença do mi natural no c. 14 do primeiro movimento, depois de quatro compassos só com figuras repetitivas incluindo mi b, é proposital, não devendo ser considerado erro de nota. O mesmo vale para o c. 33 do terceiro movimento, no qual o c. 32 é repetido, porém, com si natural em vez de si b.

 

54 AGUIAR, Ernani. Extrato do Catálogo de obras a nós enviado pelo autor.

55 Observa-se uma diferença de trinta segundos entre a duração indicada pelo compositor e a marcada em nossa apresentação.

56 Os três movimentos desta peça também podem ser apresentados separadamente.

 

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