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obras de compositores brasileiros para fagote solo dissertação de mestrado, UNI-RIO, 1999 |
BERNSTEIN, GUILHERME (*1968, Rio de Janeiro, RJ)Sonatina para fagote solo (maio de 1999, Rio de Janeiro)
A obra, em idioma tonal livre, segue, ainda que de maneira não conservadora, uma estrutura tradicional - a forma sonata, em apenas um movimento. O primeiro grupo temático (c. 1-10), em f deciso, expõe uma frase com seus dois membros (c. 1-4 e 5-8.2), seguidos de uma expansão de dois compassos. Esta expansão também explora a célula de três semicolcheias unidirecionais (com duas segundas, ou com uma segunda e uma terça), seqüência intervalar formadora do primeiro grupo temático e importante para a peça toda.Exemplo 39: c. 1-4 com marcações da célula
Exemplo 40: c. 9/10
O segundo grupo temático (c. 11-25) contém dois elementos, o segundo (veja por exemplo c. 13- 16), contrastante com o primeiro pela dinâmica p espressivo, pela predominância do intervalo de quarta, pelas ligaduras extensas e pelo uso de colcheias ao invés de semicolcheias, o que resulta em diminuição da densidade horizontal da textura. O primeiro elemento (c. 11/12 e 17/18) introduz e ‘interrompe’ o segundo. Pela distância intervalar, as notas superiores desse elemento se destacam e agrupam as semicolcheias em 3+3+2/16. Esta forma de agrupamento aparece com freqüência na peça, qualquer que seja a seção: Ex. 41: c. 11 (no 2º grupo temático) Ex. 42: c. 10 (expansão do 1º grupo temático)
Ainda na exposição, como é comum na forma sonata, segue uma seção que desenvolve elementos dos dois grupos temáticos apresentados (c. 26-44). Do segundo é aproveitada a célula das semicolcheias em saltos grandes, agrupadas em 3+3+2 e, do primeiro, a célula de três semicolcheias unidirecionais, em várias transformações, encadeada uma à outra. Antecedido pela transição, o Poco meno mosso (c. 45-49), o desenvolvimento tem início no c. 50, estendendo-se até o c. 108. Segundo o compositor, o trecho entre os c. 50 e 64 não precisa ser tocado rigidamente no ritmo e pode ganhar algo de um improviso. A partir do animando (c. 65), o trabalho de desenvolvimento se dá basicamente pelo confronto da célula de três semicolcheias em várias transformações com o ritmo de 3+3+2 em saltos grandes. Novidade é a aplicação deste ritmo em multifônicos. Bernstein escolheu dois multifônicos, o primeiro (segundo os experimentos de Bartolozzi) com uma densidade maior (maior número de intervalos pequenos) nos graves, outro nos agudos. No c. 86.2 inicia-se um jogo entre o ostinato de cinco (posteriormente somente quatro) semicolcheias sol-mi-mi-sol(-mi) e as seqüências ascendentes da célula de três semicolcheias. Enquanto o ostinato, pela insistência, quer trazer a harmonia para dó maior, as seqüências se apresentam a cada vez em outro polo tonal, todos afastados de dó, dificultando assim a volta para dó, centro tonal da exposição. Na reexposição (c. 109-162), em dó, são invertidas partes do primeiro grupo temático e inseridos novos elementos: os c. 116-121, que sugerem um recitativo, um contraponto (pedal) ao segundo tema (c. 123,128,129) e um glissando (c. 143) de duas oitavas e meia de extensão. 83 A ‘ameaça’ ao dó continua, mas a tendência para outros polos é vencida, culminando na retomada do motivo inicial do primeiro tema e um arpejo sobre dó.Um detalhe de notação: existem compassos com a melodia e um contraponto (definindo a harmonia) anotados conforme a prática comum em obras para instrumento de cordas. Como no fagote não é possível produzir duas notas ao mesmo tempo, estes intervalos devem ser arpejados. O resultado sonoro alcançado é o de uma appoggiatura, quase que um elemento ornamental. Os multifônicos são anotados em forma de acorde com resultado sonoro aproximado e como um dedilhado, segundo o sistema de Bartolozzi. Do ponto de vista técnico, a articulação e a acentuação são bastante diferenciadas, inclusive em passagens de semicolcheias, enquanto as mudanças de dinâmica geralmente se limitam ao início de frases e raramente ocorrem dentro delas. A extensão é agradável (sib 0 até si natural 3), os saltos nunca são maiores do que uma oitava, as segundas e terças predominam. Entre as técnicas pouco convencionais são usados dois sons multifônicos em staccato e o glissando. Há várias mudanças de compasso, entre 2/4, 1/8, 4+1/8 e 1/4, e diversos deslocamentos de grupos com acentos. É preciso ter uma embocadura flexível para conseguir mudança rápida para os multifônicos e uma resistência prolongada, porque as pausas são poucas. A peça foi avaliada no nível de dificuldade avançado I. O compositor alertou que a alteração do lá, na exposição (c. 2), para lá bemol, na reexposição (c. 110, depois da inversão livre do primeiro compasso do tema), é intencional e não deve ser julgada como erro. Segundo o compositor, é mais importante fazer entender o grupo de quiálteras de fusas descendentes no c. 12 como um gesto de expulsão ou de terminação um pouco violenta, do que definir corretamente cada nota. Esta obra é uma das composições que foram motivadas por nossa pesquisa. Bernstein ganhou, em 1999, uma das bolsas RioArte para a composição de uma ópera de câmara, ‘O caixeiro da taverna’. Para o ano 2000, foi um entre os compositores escolhidos para musicar documentos brasileiros históricos, estando programada sua apresentação para recitais no Centro Cultural do Banco do Brasil no Rio de Janeiro. |
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83 Como informou Bernstein, a fermata acima do glissando quer indicar que o intérprete deve tomar o tempo necessário para a ligação entre as duas notas distantes, mas de forma nenhuma significa término de uma seção e início de outra. |
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