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obras de compositores brasileiros para fagote solo dissertação de mestrado, UNI-RIO, 1999 |
GUIGUE, DIDIER (*1954, Redessan, França)Tre esercizi per fagotto (16/12/1979, Paris)
Os três exercícios, conjunto considerado pelo compositor como “peça pedagógica” 105, exploram os recursos do instrumento em produção sonora não convencional. As técnicas pouco convencionais de produção sonora empregadas por Guigue, ex-fagotista e por isso conhecedor do instrumento, são tantas que não se pode mais falar de ‘efeitos’ de produção sonora, uma vez que eles, nesta peça, existem paralelamente, com vida própria e não só como fator enriquecedor da sonoridade, às notas produzidas de maneira tradicional. Os recursos pouco convencionais empregados que têm seus sinais explicados na bula são:
- multifônicos, com dedilhados indicados - broken sound, que consiste em “dois sons, o som principal e um outro bem próximo (menos de que um semitom), provocando batimento.” - Flatterzunge - smorzato - glissando - tocar e cantar (uma nota ad libitum) ao mesmo tempo. Este recurso pode ser combinado com outros. - notas em altura e duração não determinadas - tremolo de timbre: trinado de duas sonoridades diferentes da mesma nota Conforme citado na bula, a indicação dos dedilhados segue a maneira usada por Maurice Allard na tablatura para o sistema Buffet. Por isso, a peça funciona exclusivamente no fagote francês, a não ser que, para uma execução no sistema alemão, busquem-se dedilhados com resultado sonoro equivalente. A intensidade dos recursos pouco convencionais de produção sonora é diferente nos três exercícios: no primeiro, quase que um recitativo, o maior número de sinais indicando timbres alternativos, multifônicos, notas cantadas, Flatterzunge e quartos-de tom, são encontrados na primeira parte da peça, mesmo em compassos com muita movimentação rítmica, enquanto que, do Più vivo para o final, a freqüência dessas alterações sonoras diminui significativamente. As duas seções em Pesante do segundo exercício apresentam longas seqüências de multifônicos. Já no Allegretto e leggiero, em caráter dançante, de todos os recursos citados, são trabalhados somente os quartos-de-tom. O Allegro do terceiro exercício, também nele ausente as sonoridades alternativas, menos os quartos-de-tom, constitui, em notas isoladas ou pequenos agrupamentos de notas, sempre separados por pausas, aquilo que se chamaria de um discurso fragmentado, ‘estenografado’. O A piacere apresenta, numa primeira seção, frases cantadas ao lado de trechos com elementos indeterminados e com glissandi, oscilação de afinação e notas cantadas. Na segunda seção, todas as notas das frases cantadas levam uma mudança de dedilhado. Apesar de não poder tocar a peça no nosso instrumento (do sistema alemão), imaginamos que o resultado sonoro deva ser muito interessante e único entre as demais obras reunidas neste trabalho. No uso das técnicas pouco convencionais, principalmente no que se refere à freqüência delas, Guigue vai muito mais longe que seus colegas. Obviamente, a peça foi composta para um número pequeno de possíveis executantes, porque são poucos os fagotistas preparados e equipados para aceitar o desafio de estudar a obra, avaliada com o nível avançado II na sistematização dos graus de dificuldade. No seu arquivo, o compositor tem outras peças para fagote ou contrafagote, porém, trata-se de tablaturas (partituras gráficas, cartolinas grandes e transparências) que precisam também do registro gravado para serem inteligíveis. Por estas razões, não foi possível obtê-los por via |
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DEVOS, Noël. Comunicação pessoal, 5/10/1999. 104 FUNARTE, MMB 87.0.54.1987 Rio de Janeiro, 1987.105 GUIGUE, Didier, em e-mail enviado a nós em março 1999.106 GUIGUE, Didier, na bula que acompanha a peça. Tradução da autora.107 Ibid.postal. 109108 Ibid.109 GUIGUE, Didier, em e-mail enviado a nós em março 1999. |
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