obras de compositores brasileiros

para fagote solo

dissertação de mestrado, UNI-RIO, 1999

ARIANE PETRI

 

MENDES, GILBERTO (*1922, Santos, SP)

Estudo em ré maior para fagote sem acompanhamento (1954, local ignorado)

Obra sem dedicatória67

Estreada durante o Colóquio na Universidade do Rio de Janeiro em 6 de outubro 1999 por Ariane Petri

Partitura em manuscrito

Em um movimento: Allegretto scherzando

Duração: 2’ 30’’

A obra, composta em 1954, ano no qual Mendes teve aulas de composição com Cláudio Santoro, é uma das poucas peças entre as aqui reunidas em idioma tonal. Apresentada em forma A/B/A’/Codeta, o tema de A é em ré maior seção na qual as modulações, a partir do c. 11 e especialmente a partir do c. 16, evocam a atmosfera de uma valsa seresteira. O tema de B é em sol menor. Os dois são repetidos com variações, sempre entreligados por transições formadas por seqüências percorrendo várias tonalidades que fazem lembrar um baixo contínuo bachiano. À reapresentação do tema de A e sua transição segue uma coda contendo um trecho com nota-pedal lá, confirmando a tônica ré.

O título Estudo entende-se mais como estudo composicional do que instrumental, já que não apresenta nenhuma dificuldade técnica de maior vulto. Mendes aproveitou o material temático 43 anos depois, na obra Ranchera, che! para fagote e piano, datada de abril 1987 e dedicada a Sueli Bispo e Peter Heider. Esta obra, ao contrário da primeira, contém elementos humorísticos como, por exemplo, as cinco repetições de uma terminação de frase e de um recorte de dois compassos do meio de uma das frases.

A extensão da obra (si b 0 - ré 4) e a resistência necessária para tocá-la elevam o grau de dificuldade para o intermediário II, mesmo constatando que o dó 4 e o ré 4 aparecem no contexto de outros agudos e por isto são facilmente alcançados. A peça trabalha todos os registros, mas em velocidade moderada, apresentando quiálteras de três colcheias como a subdivisão menor. Existem pouquíssimos saltos grandes e, ainda assim, nunca em legato. A terça é o intervalo predominante, frequentemente apresentado em seqüências. Além das citadas quiálteras, não existe nenhuma ligadura na peça, o que obriga o intérprete a desdobrar-se em atenção entre a diferenciação do non legato e staccato. Sugerimos entender notas sem indicação de staccato como se tivessem indicação de portato, para não haver interrupção do som. Também, ao tocar a obra, permitimo-nos, para o segundo tema, escolher um andamento um pouco abaixo do inicial para valorizar seu caráter lírico. Esta nossa compreensão recebe reforço em Ranchera-che!, no qual existem as seguintes indicações de metrônomo: MM semínima=152 para o primeiro tema e MM semínima=120 para o trecho no qual, entre outros elementos, é apresentado o segundo tema. Interessante também que os trechos reaproveitados do Estudo, nele sem staccato, na Rancherache! aparecem com ligaduras, o que faz até pensar na possibilidade de realizar o non staccato do Estudo como legato.

O Estudo de Gilberto Mendes de 1954 é a primeira peça para fagote solo encontrada através da nossa pesquisa realizada junto aos compositores e consta na lista de obras do compositor em vários dicionários, não só nacionais. Mesmo assim, Mendes não teve, quando nos mandou a peça, nenhuma notícia dela ter sido estreada - nem 55 anos depois da composição.

 

67 Quando Mendes nos enviou a peça em 27/04/1999, observou na devolução do questionário: “Se você tocá-la, fica dedicada a você.” Portanto, é possível que esta peça ainda ganhe uma dedicatória...

 

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