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obras de compositores brasileiros para fagote solo dissertação de mestrado, UNI-RIO, 1999 |
MIGNONE, FRANCISCO (1897, São Paulo, SP - 1986, Rio de Janeiro, RJ)16 valsas para fagote (1979/81, Rio de Janeiro)
Apesar dessa ser a obra mais extensa e certamente das mais importantes entre as aqui reunidas, não pretendemos nos estender muito nos comentários a seu respeito. Além de ser muito conhecida entre os fagotistas brasileiros, já existe uma dissertação de mestrado dedicada exclusivamente às 16 valsas, intitulada Uma abordagem técnica e interpretativa das 16 valsas para fagote solo de Francisco Mignone.70 Nela, o autor, Elione Alves de Medeiros, entre outros ítens, discute a origem e evolução das valsas européias e brasileiras, apresenta análises morfológicas e estilísticas das Valsas para fagote e transmite aspectos interpretativos delas na visão de Mignone, resgatados através de entrevistas com Noël Devos, amigo do compositor que, antes de gravar a obra, estudou as Valsas a seu lado. Segundo Medeiros, trata-se de composições de caráter romântico com traços seresteiros (chorinho/valsa nacionalizada).71 “Através da abordagem interpretativa de gêneros populares fica mais transparente o entendimento da plasticidade rítmica das valsas para fagote solo, identificada principalmente nas ampliações e movimentos cadenciais de gêneros musicais seresteiros.”72 Em muitos momentos faz-se presente, pelos muitos ornamentos, a lembrança da flauta e, pelos movimentos melódicos em notas graves, o bordão do violão seresteiro.73 O total das peças, pequenas estruturas binárias ou ternárias, excetuando-se uma, é escrito em tons menores. Como escreve Devos nas palavras introdutórias à edição da partitura, “cada valsa é um poema com uma idéia bem definida […]”74, e, exemplificando a compreensão de fraseado musical, cita Mignone: “o intérprete deve adaptar palavras em cada frase que toca.”75 Há sempre um acompanhamento harmônico subentendido, que muitas vezes pode-se imaginar sendo executado por um violão. Tecnicamente falando, as Valsas exploram as possibilidades do instrumentos no legato e staccato e cobrem uma extensa tessitura, algumas vezes chegando ao mi 4 e fá 4. Nestas valsas, uma execução no fagote francês torna-se mais favorável do que a tentativa (geralmente mal-sucedida) de alcançar, com a mesma leveza, aquelas notas no modelo alemão. É o caso pelo menos da 6ª valsa brasileira e da valsa em si bemol menor. Além de alto nível técnico, há a exigência de grande expressividade musical, a qual requer mudanças de sonoridade em vários momentos. Globalmente, o conjunto das 16 valsas foi avaliado no nível de dificuldade avançado I, embora tivéssemos constatado mais dois outros níveis. As valsas pertencentes ao nível intermediário II geralmente apresentam uma extensão mais restrita e menos intervalos de difícil execução em legato. Já as pertencentes ao avançado II incluem o fá 4. Apresentamos abaixo as valsas agrupadas por seu grau de dificuldade: nível intermediário II:
nível avançado I:
nível avançado II:
Vemos as valsas como estudos de uma expressividade tipicamente brasileira, principalmente pela natureza das linhas melódicas (tendência à direção descendente), pela liberdade rítmica e pelo uso do gênero valsa, tão comum na música popular brasileira. Porém, por não serem organizadas segundo critérios de dificuldade, não consideramos esta obra um método, como sugerido por alguns autores. As 16 Valsas de Mignone são até agora, entre as peças brasileiras para fagote solo, a única obra que se tornou conhecida fora do país e conquistou o repertório de vários fagotistas internacionais, principalmente depois que uma delas foi escolhida como parte do repertório exigido no concurso internacional para fagotistas organizado pela International Double Reed Society em 1998. A obra de Mignone para fagote é vasta e enfoca o instrumento em formações que têm pouco repertório, como, por exemplo, a Sonatina para fagote solo, analisada também nesse nosso trabalho, o Concertino para fagote e orquestra, duas sonatas para dois fagotes, além de trio e quartetos para fagote, ainda que, curiosamente, nenhuma obra para fagote e piano. As Valsas se destacam neste conjunto de obras, por sua dimensão e envergadura. |
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As durações aqui transmitidas constam na partitura e são de autoria de Devos. Já as durações da gravação pelo mesmo artista diferem, o que, na maioria dos casos se deve ao corte de certas repetições. 69 Quanto no índice, tanto no título da peça encontramos esta informação, porém, a tonalidade da valsa é fá # menor.70 MEDEIROS, Elione Alves de. Uma abordagem técnica e interpretativa das 16 valsas para fagote solo de Francisco Mignone. Dissertação de mestrado. Rio de Janeiro: Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro 1995.71 Ibid., p. IV.72 Ibid., p. 44.73 Ibid., p. 43.74 DEVOS, Noël. Prefácio das '16 valsas para fagote solo'. Rio de Janeiro, Funarte 1983.75 Ibid.
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