obras de compositores brasileiros

para fagote solo

dissertação de mestrado, UNI-RIO, 1999

ARIANE PETRI

 

SIQUEIRA, JOSÉ (1907, Conceição, PB - 1985, Rio de Janeiro, RJ)

Estudo para fagote solo (02/01/1981, local ignorado)

Obra dedicada a Noël Devos

Estréia ignorada

Partitura em manuscrito

Em um movimento: Vagoroso, quase sem rigor de tempo

Duração: 2’30’’

Em forma ABA’, as idéias apresentadas na seção A do Estudo (início até o mi 3 com fermata do quarto sistema) giram em torno da nota mi, enquanto na seção B (dó 1 no quarto sistema até al segno) as notas centrais são dó e si b. Pequenos recortes dessas idéias, geralmente de uma ou duas semínimas de duração, são repetidos, em outros registros, logo em seguida à primeira apresentação, percorrendo assim duas, três ou quatro oitavas, muitas vezes acelerando e alargando o andamento. O idioma é tonal livre com elementos modais.

O Estudo, que segue a indicação de compasso 2/4, não apresenta barras de compasso. Ainexistência destas barras, cuja função normalmente é a organização e estruturação métrica e visual do material sonoro, reforça a indicação “vagoroso, quase sem rigor de tempo”. As repetições frequentemente são indicadas por barras diagonais. São usadas as claves de fá e de sol, no registro agudo.

O aspecto técnico da peça tem que ser tratado diferenciadamente, separando o fagote francês do fagote alemão. O francês tem muito mais facilidade em alcançar os extremos agudos. No sistema quatro do Estudo aparece, três vezes sucessivas, a seguinte descida de oitavas: mi 4 - mi 3 - mi 2 - mi 1, em colcheias não ligadas. Para quem toca o sistema alemão, a emissão deste trecho, com clareza e definição, sem que o mi 4 falhe, apresenta uma grande dificuldade. No sistema francês, o ataque do mi 4 não causa tantos problemas. Outra questão para o instrumentista do sistema alemão é o uso da nota fá 4, que nem existe nas tablaturas tradicionais para o fagote alemão.

Ademais, ela aparece como nota inicial de uma ligadura e por isso precisa ser atacada (final do 1º sistema). Por essas razões, a realização deste Estudo se torna ainda mais complicada no fagote alemão do que no francês. O grau de dificuldade dessa peça, dificílima de ser executada, em qualquer dos dois sistemas, fica em nível avançado II. Devos, a quem a obra foi entregue, entende este estudo mais como uma obra didática do que como obra adequada para tocar diante de público.

A respeito dos acidentes, colocados, como geralmente em peças sem barras de compasso, antes das notas a serem alteradas, gerou uma dúvida: em vários momentos, dentro das citadas repetições de motivo, aparecem notas sem os acidentes. Como isso acontece somente em repetições posteriores à primeira, e mantendo o registro de oitava, acreditamos tratar-se de esquecimento, devendo tais repetições serem lidas como se o acidente anterior ainda valesse. Esse é o caso em: 1º sistema, penúltima colcheia (ré 4); 2º sistema, depois do 2º a tempo (duas vezes ré 1); 3º sistema, depois do mf (duas vezes ré 2) e 8º sistema, antepenúltima figura (ré 1).

 

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