obras de compositores brasileiros

para fagote solo

dissertação de mestrado, UNI-RIO, 1999

ARIANE PETRI

 

SIQUEIRA, JOSÉ (1907, Conceição, PB - 1985, Rio de Janeiro, RJ)

Estudo de virtuosidade para fagote solo (17/07/1978, Rio de Janeiro)

Obra sem dedicatória

Data da estréia ignorada, porém, Noël Devos se lembra de ter apresentada a obra várias vezes na Escola de Música da Universidade do Rio de Janeiro78

Partitura em manuscrito

Em um movimento: Lento, semínima = 56 a 58 / Allegretto, semínima = 100 / Meno, semínima = 84 / Tempo I

Duração: 2’30’’

Este estudo em idioma tonal, basicamente em mi menor, reúne tanto passagens tonais, muitas vezes lembrando seqüências harmônicas típicas do romantismo, quanto passagens cromáticas, pentatônicas e formadas a partir de superposição de terças. Formalmente, é estruturado em ABA’ (A: Lento, B: Allegretto e Meno, A’: Tempo I). Explora os recursos melódicos e líricos do instrumento, tanto que, na peça, encontram-se poucas notas não ligadas. As frases são formadas a partir de motivos sequenciados por vários registros, ora em distância de oitava (por exemplo c. 1 e início de 2, c. 6, c. 25-29), ora em distância intervalar menor (c. 10-12). Comparados com os de A, os primeiros quatro compassos de A’ são uma variação mais movida, ocupando um âmbito intervalar maior. As semicolcheias ascendentes nos compassos 3 e, ritmicamente alteradas, nos compassos 10 a 12, lembram seqüências melódicas típicas do gênero da seresta, que poderiam fazer parte das Valsas de Esquina de Mignone.

Como acontece também no outro Estudo de Siqueira, o registro superagudo é utilizado com freqüência. A execução de notas como ré # 4 (c. 49) e mi 4 (c. 18) é, devido a diferenças de construção dos dois sistemas, mais complicada no fagote alemão do que no fagote francês. A peça tem como requisito uma resistência grande por não apresentar pontos de menor densidade ou de descanso, a não ser as duas fermatas entre o Lento e o Allegretto e a volta ao Tempo I. O nível de dificuldade é o avançado I, sempre considerando a problemática das notas superagudas no sistema alemão.

Na partitura que tivemos à disposição constam mudanças de articulação anotadas por Noël Devos, a quem o Estudo de virtuosidade foi entregue; nessas mudanças foram assimilados certas ligaduras de uso em outras de linguagem pós-romântica, sobretudo nos estudos para fagote do início desse século (como, por exemplo, nos Studi di bravura e Studi melodici de A. Orefici). As mudanças realizadas por Devos evitam, por exemplo, ligaduras que unem a última semicolcheia de um tempo às duas seguintes, ou articulações que juntam três semicolcheias e deixam uma desligada, optando sempre por ligaduras que não ultrapassem a unidade de tempo:

articulação de Siqueira          articulação de Devos

c. 7

c. 10/11

c. 55

Em conversa com Devos, ele ressaltou que estas soluções de articulação são escolhas individuais e não se adequam, necessariamente, às preferências de outros fagotistas.

As mudanças de fórmula de compasso não acrescentam problemas, porque não saem do 4/4, 2/4 e 3/4. Todavia, queremos chamar atenção para o fato de que alguns compassos encontram-se incompletos ou estão cheios demais, obrigando o intérprete a interferir no texto musical e optar por mudanças, ou da fórmula de compasso, ou do ritmo. Esse é o caso nos c. 3, 48 e 49, enquanto, entre os c. 35 e 36, falta a indicação da mudança de compasso. Descobrimos que o primeiro dos compassos em tremolo (c. 41) originalmente levava o tremolo mi-sol# durante três semínimas. Como a constelação de chaves no instrumento de Devos tornaria muito desconfortável ou quase impossível a execução destas notas em tremolo, ele optou por mudar o compasso, após ter consultado o compositor:

 

Exemplo 29: Estudo de virtuosidade, Siqueira, c. 41, versão original

 Exemplo 30: idem, versão mudada

 
78 DEVOS, Noël. Comunicação pessoal. 5/10/1999.

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