obras de compositores brasileiros

para fagote solo

tese de mestrado, UNI-RIO, 1999

ARIANE PETRI

 

TERRAZA, EMILIO (*1929, Bahia Blanca, Argentina 47)

Momentos para fagote M. 29 (julho de 1977, Brasília) 48

Dedicatória: “Para minha filha Paula” (que não é fagotista)

Obra encomenda para publicação no jornal Sensus por Jorge Antunes, editor-geral do Sensus e presidente do Movimento Candango de Música Contemporânea (MC)2

Estreada por Hary Schweizer, em 19/10/1978, no Auditório de Música da Universidade de Brasília

Obra existente em duas formas de apresentação:

  • em manuscrito, publicado na Coleção Emecedois do jornal Sensus, órgão oficial do Movimento Candango de Música Contemporânea (MC)2, no. 3, ano 1, 1978

  • em versão computadorizada

Em três movimentos (‘momentos’):

I - Lento (download)

II - sem título (MM semínima=120) (download)

III - sem título (MM semínima=100) (download)

Duração: total netto 2’15’’: I - 1’15’’, II - 0’30’’, III - 0’30’’

 

No pequeno artigo que acompanha a publicação da M. 29 (‘Música 29’) no jornal Sensus,49 os Momentos são descritos como “breves, esparsos, onde o caráter humorístico do comportamento discursivo-pontilístico do solista se faz sempre presente.”50 Na obra, o sério e o humorístico se revezam. No primeiro Momento, a tranquilidade e a linearidade das frases, formadas por notas longas e sustentadas e longas pausas, são contrastadas por notas curtas e por notas agudas com fermata e sforzato, que, na versão computadorizada ainda levam o aviso “som distorcido”. A segunda peça se baseia em material homogêneo: são pequenas células nos registros grave e médio, sempre anacrústicas e ritmicamente marcantes, interrompidas somente por dois compassos de um lírico poco piú lento. A última peça apresenta, apesar da pouca duração, maior variedade de elementos, o primeiro deles com saltos grandes, garantindo um efeito cômico. Os três Momentos, escritos dentro do tonalismo livre, têm como centros tonais I - dó, II - fá e III - sol.

A notação das peças dois e três é tradicional, enquanto para a primeira, o compositor criou símbolos próprios para redefinir a proporção das durações. Segundo o artigo e as instruções na partitura, a nota-preta representa uma unidade, a nota-branca o dobro e a nota-preta cortada a metade da unidade, o que resulta num som curto, sem ser staccato.“ As proporções não devem, de modo algum, ser rígidas.”51 O valor (também somente “aproximado”) das pausas, sempre múltiplas de unidade, é expressado por algarismos. As relações de duração empregadas no primeiro movimento são tão exatas quanto as indicadas pela notação tradicional. Se não fosse o aviso no artigo, o intérprete não teria como tomar conhecimento de que o compositor deseja uma execução sem rigidez rítmica. Na partitura entregue a Noël Devos em 4/11/1978, Terraza juntou - à mão - o aviso a piacere, deixando claro a idéia quanto à interpretação.

Situamos a peça no nível intermediário I. As duas notas na região aguda que ultrapassam o limite de extensão definido para esse grau são justamente as que levam a indicação “som distorcido”, razão pela qual a dificuldade não precisa ser levada em consideração. É usada a clave de dó na terceira linha.

Os Momentos são bons também para a aplicação no ensino do instrumento. Além de trabalhar várias dificuldades técnicas, como estabilidade sonora e resistência moderada (Momento I), precisão rítmica e boa resposta no registro grave (Momento II) e mudança rápida de caráter e movimentação rápida do polegar esquerdo (Momento III), eles possibilitam um contato do aluno com elementos da estética contemporânea, como a valorização do silêncio (pausas longas), o sistema de notação alternativo e a distorção sonora.

 

47 Terraza vive no Brasil desde 1958 e naturalizou-se brasileiro em 1960.

48 O compositor assinou a versão manuscrita com “Brasília, julho 1977”, porém, na cabeça de página, está impresso

“Brasília, 1978”, que é o ano da publicação.

49 Ver anexo nº 5.

50 Sensus, p. 4.

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