obras de compositores brasileiros

para fagote solo

dissertação de mestrado, UNI-RIO, 1999

ARIANE PETRI

 

TROMPOWSKY, MÁRIO (*1956, Rio de Janeiro, RJ)

Soata nº 4 (1983/85, Rio de Janeiro)

Obra sem dedicatória

Obra não estreada

Partitura em manuscrito

Em três movimentos:

I - MM semínima=112

II - MM seminima=60

III - MM semínima=138

Duração: total netto: 6’15’’; I - 1’45’’; II - 3’15’’; III - 1’15’’

Os três movimentos da Soata nº 4 têm em comum a atmosfera escura, produzida, basicamente, pela constelação dos intervalos usados (geralmente pequenos) e pelo emprego exclusivo dos registros grave e médio. No primeiro movimento (em forma A/B/A’/C/A’’), essa atmosfera é intensificada pela natureza dos motivos que caracterizam cada seção: todos são curtos, semelhantes entre si e geralmente formados por notas graves em staccato; a sua estrutura rítmica é similar (semicolcheias, que acalmam em colcheias ou semínimas, seguidas por pausa) e todos aparecem em formas variadas.

Exemplo 21: motivo 1, c. 1

Exemplo 22: motivo 2, c. 15

Exemplo 23: motivo 3, c. 32/33

A insistência nos pequenos fragmentos contribui para a criação do clima sombrio. O segundo movimento poderia ser entendido como uma marcha fúnebre, mesmo quando escolhido um andamento um pouco mais rápido do que o indicado. Características da marcha fúnebre são as duas colcheias anacrústicas, por vezes mudadas para colcheia pontuada e semicolcheia, seguidas de nota sustentada (c. 7.4-8), a própria configuração colcheia pontuada e semicolcheia repetida (c. 8.3-11.3) e o andamento alusivo a uma marcha lenta. A marcha só começa a ‘tropeçar’ onde o compasso muda de 4/4 para 3/4: c. 29 e c. 45.

Por fim, o último movimento apresenta-se com caráter de scherzo. A estrutura intervalar do c. 1 (4ª, 3ª e 2ª) é reencontrada no movimento inteiro em diferentes constelações. A partir do c. 54, aparecem síncopes, um elemento rítmico antes não experimentado, que provoca uma quebra, intensificada pela mudança da dinâmica de mf para f e do compasso 2/4 para 3/4.

O nível de dificuldade desta obra oscila entre o intermediário I e II. Alguns aspectos técnicos como extensão (dó1 até ré b 3), dinâmica e saltos se encaixam nos ítens definidos para o intermediário I, enquanto o staccato exigido na região grave em MM=112, no primeiro movimento, e a resistência necessária à realização das notas longamente sustentadas, no segundo movimento, apontam mais para o intermediário II.

O ciclo das Soatas é composto por quatro peças para os instrumentos de sopro de madeira (flauta, oboé, clarineta e fagote), todas escritas na mesma época, mas com números de movimentos bem diferentes.

 

voltar ao sumário da tese      página inicial