CD em foco

 

francisco mignone, 16 valsas brasileiras, elione medeiros

 

 

    1. a boa páscoa para você, devos!
    2. aquela modinha que o villa não escreveu
    3. sexta valsa brasileira
    4. mistério (quanto amei-a!)
    5. valsa ingênua
    6. valsa improvisada
    7. pattapiada (le plus vite possible)
    8. valsa declamada (o viúvo)
    9. apanhei-te, meu fagotinho (valsa paródia)
  10. valsa em si bemol menor (valsa dolorosa)
  11. valsa-choro
  12. a escrava que não era isaura
  13. + 1 3/4 (com alegria interior)
  14. valsa quase modinheira (a implorante)
  15. valsa da outra esquina
  16. macunaíma (valsa sem caráter)
 
do encarte do CD:
ARISTOCRACIA DE ESQUINA EM RITMO TERNÁRIO - por RICARDO TACUCHIAN
 

Depois que a valsa chegou ao Brasil, no século XIX, ela foi tomando feições novas. Adaptou-se aos conjuntos de choro e às serestas e até ganhou letra, sendo interpretada por grandes cantores populares. Com Ernesto Nazareth a valsa já havia alcançado uma síntese da ternura e nostalgia tropicais com as raízes aristocráticas da velha Europa. Mignone é um continuador de Nazareth e nenhum outro compositor brasileiro transitou tão à vontade nas sendas enluaradas da valsa brasileira como Mignone. Durante toda sua carreira, ele está a nos propor um convite à valsa. Ele nos mostra uma outra aristocracia, a da esquina, através do piano, instrumento que conhecia profundamente, como intérprete e compositor. Para piano escreveu 4 séries de valsas (as 12 Valsas de Esquina, entre 1938 e 1943; as 12 Valsas-Choro, entre 1946 e 1955; as 6 pequenas Valsas de Esquina, em 1964; e asa 24 Valsas Brasileiras, entre 1963 e 1984), isso sem falar em mais de uma dezena de valsas isoladas ou fazendo parte de suítes. Em 1970, o violão foi o instrumento escolhido (12 Valsas para violão) e, entre 1979 e 1986, optou pelo fagote para jorrar esta fonte valseira que parecia inesgotável. As 16 valsas para fagote solo foram escritas para Noel Devos, o fundador de uma importante dinastia de grandes fagotistas brasileiros. As valsas para fagote solo ganharam os Estados Unidos e a Europa e mereceram várias gravações por fagotistas ilustres (a primeira foi a do próprio Devos). Elione Medeiros é discípulo de Devos e também não resistiu ao encantamento daquelas jóias da literatura musical brasileira. Penetrou em seu universo e, agora, nos oferece uma nova versão interpretativa. Uma verdadeira obra de arte sempre tem tesouros escondidos para serem revelados pelas novas gerações e esta é a proposta de Elione Medeiros. O Trio Mignone-Devos-Medeiros reproduz o ritmo ternário da valsa. Vamos dança-la, desta vez ao som do fagote de Elione

(Ricardo Tacuchian, professor, doutor, compositor, Presidente da Academia Brasileira de Música)

 
depoimento de Elione Alves de Medeiros:

"Minha intenção de gravar o CD contendo todas as valsas para fagote solo de Mignone, surgiu a partir da minha dissertação de mestrado que teve como tema as valsas para fagote solo. Isso já vinha se internalizando nos meus objetivos de vida desde 1995! Mas a grana era curta para gravar e depois as prioridades da vida nunca me deixavam juntar o dinheiro necessário para isso. Finalmente, depois de ter de ter participado de uma avaliação de projeto enviado para Petrobrás, ganhamos o incentivo que faltava para registrar as valsas.

Para mim a importância de gravar as valsas solo era de buscar uma identidade pessoal nesse registro. E ainda seria meu primeiro CD solo! Naturalmente eu não conseguiria ser totalmente original com minhas idéias musicais, seria impossível. Busquei editar as valsas e fiz uma edição particular a partir de uma leitura crítica dos manuscritos de Mignone. Fiz muitas revisões e fiz algumas alterações a partir das análises do autógrafo. Escrevi alguns artigos sobre essas composições, que saíram na revista Eldorado da nossa colega e fagotista Andréa Merenzon e mais tarde  apresentei um trabalho relacionado ao tema das 16 valsas solo para fagote na ANPOM no Rio de Janeiro. A valsa “Mistério”, por exemplo, é executada sempre muito rápida enquanto o andamento se mostra como valsa lenta, e essa valsa é uma homenagem à primeira esposa de Mignone, que desapareceu num acidente aéreo entre Rio e São Paulo. O avião caiu na Serra da Cantareira e nunca foi encontrado, daí o nome Mistério e o subtítulo (quanto amei-a!). É uma valsa sentida, plangente. A valsa “declamada” (o viúvo) também se refere à perda da esposa, enfim, tentei entrar nesses universos. Pattapiada é uma paródia da peça “Primeiro amor” de Pattápio Silva, muito conhecida pelos flautistas de “choros”. Tem caráter alegre e até cômico e por aí vai, Apanhei-te, meu fagotinho! que faz alusão ao chorinho “apanhei-te, meu cavaquinho” de Ernesto Nazareth, valsa ingênua, Macunaíma... Tentei entrar nesses universos.
Enfim, gravei as valsas usando as partituras revisadas e editadas por mim. A edição da Funarte carece de detalhes. Alguns muito importantes como as expressões em francês. Fiz várias revisões. Os colegas que obtiveram as partes do portal do fagote me ajudaram a apontar equívocos, que então corrigi.
Minha interpretação vai de encontro a todas que já foram gravadas, não foi de propósito, procurei apenas ser original. Há um ano faço questão de não ouvir nenhuma das gravações que tenho, exatamente para não me influenciar por nenhuma. Pois todas, sem exceção foram gravadas a partir de duas referências: a Edição Funarte e a gravação de Noel Devos.
Eu não queria fazer uma gravação que lembrasse nem a de Devos (fantástica!) nem a de outros intérpretes; meu desejo era dar a minha versão de brasileiro da gema. Mesmo porque se não fosse assim, seria apenas mais um CD, o sexto quem sabe.
Busquei um estúdio e comecei a gravar. O estúdio chama-se “A Casa” e tem um excelente técnico! No primeiro dia de gravação fiquei 4 horas verificando sonoridade e distância dos 5 microfones, e ainda forjamos a sala (plugin do software Protus). Nesse dia nada gravei.Tudo foi demarcado e a minha área ficou restrita a poucos movimentos. Gravei em pé. É desconfortável gravar em estúdio, pois o resultado sonoro é muito ruim, sem acústica, sem retorno, enfim... Mas escolhi uma boa palheta e fui em frente.
Gravei as 16 valsas sem pressa, porque, além disso, eu tinha meus afazeres, ensaios, compromissos, a docência, a família. Usei a mesma palheta, mas depois refiz algumas valsas por causa da interpretação e de alguns equívocos; para isso usei outra palheta. O duro mesmo foi analisar em casa cada “bounce” e editar as seções ou frases mais pertinentes. Isso me deu mais trabalho do que gravar, mas aprendi muito com isso e tiraria de letra se tivesse que fazer outra gravação usando essa técnica.
Depois, começou a busca pelo encarte, as provas, e essas deram trabalho. Mudamos até de artista gráfico! Valeu a pena. Depois de muitos dias de escolhas, sugestões, revisões e acertados os detalhes, enfim o máster foi enviado para confecção dos CDs, foi um caminho longo, de trabalho árduo, mas de conquistas..."
 
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textos de Elione Medeiros publicados no portal do fagote:
outros CDs de Elione Medeiros:
  • MORADA DOS VENTOS, composições de Angélica Faria
  • PIAZZOLANDO (participação no CD)

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